É irónico que a ameaça de “estagnação secular” seja mais
grave na Europa, mas que seja nos EUA onde ela é mais debatida. Esta
“estagnação secular” consiste numa prolongada debilidade da procura agregada
(há outras fontes possíveis mas não vamos analisá-las), que se traduz em
crescimentos muito modestos.
Há dois mecanismos de base, que se reforçam mutuamente. Por
um lado, a estagnação da população gera fracas perspectivas de crescimento, que
conduzem a investimentos modestos e, por outro, o envelhecimento demográfico
cria necessidades crescentes de poupança, para financiar as pensões futuras, de
forma mais clara nos regimes de capitalização.
O excesso de poupança gerado por esta combinação não só
deprime a procura como diminui as taxas de juro. No entanto, como estamos em
presença de uma poupança para o período de reforma, mesmo suplementar às
pensões, ela será capitalizada a taxas de juro inferiores, o que irá obrigar a
uma maior poupança para se atingir um determinado valor de segurança. Este
efeito pode ser profundamente desestabilizador, já que taxas de juro baixas
forçam um aumento da poupança, que tem como efeito uma nova redução das taxas
de juro. Por seu turno, isso induzirá um novo aumento da poupança, agravando a
escassez da procura agregada e aproximando a economia do caso limite e muito
difícil de gerir de taxa de juro zero.
Nos EUA, a resposta adequada a este tipo de risco seria o recurso
mais acentuado à política orçamental, já que a política monetária perde a sua
eficácia quando as taxas de juro são muito baixas. Esta solução só muito
parcialmente tem estado disponível, não por limites económicos, mas
ideológicos.
Na zona do euro, onde os riscos de estagnação secular são
mais fortes, sublinhe-se, pedir-se-ia maiores estímulos orçamentais, mas que,
aqui, estão triplamente dificultados, quer em termos ideológicos (nos países
credores), quer institucionais (pelos vários tratados europeus) e económicos
(nos países devedores).
Admitindo que a zona do euro irá viver em estagnação secular
nos próximos anos (décadas?), quais as implicações para Portugal? Dada a
concentração das nossas exportações na UE isto agravaria o nosso potencial de crescimento,
pelo lado da procura externa, que poderia eventualmente ser mitigado através da
diversificação geográfica do nosso comércio externo.
Por outro lado, significaria que o cenário de taxas de juro
extremamente baixas estaria para durar ainda durante muitos anos, o que
diminuiria o peso que o nosso elevado endividamento tem sobre o nosso
crescimento. As contas públicas veriam uma diminuição dos encargos com a dívida
pública, permitindo uma mais rápida redução da dívida pública, essencial para
uma melhoria do rating e para aliviar
o financiamento ao sector privado.
[Publicado no DiárioEconómico]
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