Soros acelerou a
inevitável saída da libra do Mecanismo de Taxas de Câmbio e a zona do euro
poderá estar a caminho de criar o seu “Soros”
Em 1992, falando com os mais variados analistas e
investidores, Soros recebia a resposta unânime de que a libra não conseguiria
manter a paridade vigente no Mecanismo de Taxas de Câmbio (MTC). O governo britânico
estava a tomar medidas desesperadas, de subida de taxas de juro, que eram
económica e politicamente insustentáveis. O que surpreendia Soros era que a
unanimidade de pensamento não se traduzisse em acção. Foi isso que ele fez,
apostando contra a libra, o que acelerou o inevitável e, no processo, lhe deu a
ganhar mil milhões de libras.
Neste momento, parece que a zona do euro se está a aproximar
de um momento Soros, devido à vitória do Syriza na Grécia, embora com três variantes.
Em primeiro lugar, é muito menos evidente hoje de que a
Grécia esteja muito próximo de sair do euro, como era então evidente que a
libra seria expulsa do MTC. Seria uma irresponsabilidade de tal forma grande
que o Syriza provocasse deliberadamente a expulsão do seu país da zona do euro,
que muitos continuam a acreditar que algum tipo de compromisso será encontrado.
No entanto, convém sublinhar que Alexis Tsipras e o seu
governo se têm comportado de forma tão pouco racional, que convém manter um
grande cepticismo. Os zigues-zagues têm sido permanentes, mas o próprio BCE já
parece ter perdido a paciência para este jogo, talvez cedo demais.
Em segundo lugar, a saída da libra do MTC gerou uma enorme
flexibilização das regras deste Mecanismo, que passaram a ser muitíssimo mais
fáceis de cumprir. Em contrapartida, a saída da Grécia do euro, mesmo gerando
algum alívio nas regras actuais, criaria a suspeita de outras retiradas desta
zona monetária. Ou seja, a saída da Grécia do euro pode provocar estragos
muitíssimo superiores aos ocorridos à moeda britânica em 1992.
Em terceiro lugar, e esta talvez seja a diferença mais
importante, qualquer “Soros” que queira testar hoje a consistência do euro terá
de enfrentar o BCE a iniciar um gigantesco programa de compra de dívida
soberana, o que, por enquanto, poderá ser encarado como uma muralha intransponível.
No entanto, resta saber como este filme se irá desenrolar.
Se, fora da Grécia, as coisas parecem extremamente calmas (leia-se, as taxas de
juro de longo prazo), muita coisa poderá mudar muito rapidamente.
Por um lado, atente-se na total improvisação do lado
helénico, criando um suspense permanente. Do lado europeu, já foi confirmada a
intransigência da Alemanha e do BCE, agravada pela ilusão de que a saída da
Grécia do euro seria algo de gerível. Mas, sobretudo, recordemos os disparates
decididos – por unanimidade! – durante a crise de Chipre, para reavaliarmos a
possibilidade de uma tempestade súbita.
[Publicado no DiárioEconómico]
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