Os partidos portugueses têm, infelizmente, evitado criar
governos-sombra, por razões difíceis de descortinar. No entanto, tudo indica
que esta seria uma opção muito interessante e sugiro a António Costa que crie
um governo-sombra, para nos esclarecer a posição do PS sobre estes “tempos
interessantes” que temos vindo a viver e que não parecem estar próximo do fim.
Um dos problemas mais significativos dos governos
portugueses é a escolha surpresa de ministros, muitas vezes sem experiência
política. Muitas vezes, quem fica mais surpreendido é o próprio e isso é muito
mau por duas razões. Em primeiro lugar, porque as urgências a que um ministro
tem que atender, sobretudo na nossa dificílima conjuntura, raras vezes deixam
espaço para uma reflexão estratégica, que exige tempo e algum sossego. Em
segundo lugar, porque começa do zero, sendo habitual que os primeiros seis
meses, ideais devido ao estado de graça inicial, sejam perdidos na tomada de
contacto com os diferentes dossiers.
Em contrapartida, se o futuro ministro já fizesse parte do
gabinete-sombra, aqueles dois problemas poderiam ser muito minorados. Para além
disso, teria um período suficiente para cometer gaffes, que podem ser momentos de aprendizagem, que é sempre melhor
fazer – para ele e para todos nós – na oposição e não no governo, bem como
permitiria esclarecer quem não tem o menor talento para vir a ocupar o lugar de
ministro.
Talvez o medo mais importante seja que os ministros-sombra
passem a ter mais prestígio do que muitos dirigentes partidários, mas um líder
que não consegue estar acima da mediocridade do aparelho serve para quê?
Em relação à eventual objecção de que um futuro
primeiro-ministro estaria já a ceder parte do seu poder, isso faz pouco sentido.
Como é evidente, qualquer ministro-sombra pode ser demitido em qualquer
momento, mais facilmente que qualquer ministro. Para além disso, esta nomeação
não implica que venha a fazer parte de um futuro governo, quer porque a sua
prestação não foi a melhor, quer porque a sua pasta foi assumida por um partido
de uma nova coligação.
António Costa podia mesmo iniciar a formação do seu
governo-sombra com a nomeação do ministro da Cultura, mostrando desde logo o
seu empenho em cumprir uma promessa que já fez. Posteriormente, se não fosse
pedir muito, estamos todos mortinhos de ansiedade em conhecer o seu ministro
das Finanças sombra, a quem temos, desde já, imensas questões a colocar, tais
como: qual a reforma da despesa pública que pretende fazer? Se Portugal vier a
beneficiar de condições semelhantes às que venham a ser concedidas à Grécia,
como tenciona usar esses recursos? Que medidas planeia para tornar o
investimento, em particular o estrangeiro, mais atractivo no país?
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