António Costa está a
precisar urgentemente de arranjar um ministro das finanças, para parar com a
demagogia e fantasias
Um dos problemas maiores da política portuguesa é a forma
como os nossos políticos se nos dirigem. Parece que partem de duas premissas:
1) a esmagadora maioria dos portugueses não passa de um bando de analfabetos,
ignorantões e incapazes de um mero simulacro de raciocínio; 2) não existem
comentadores e analistas capazes de desmontar as falsidades e baboseiras do
discurso político, pelo que é facílimo enganar os idiotas dos portugueses.
O que mais impressiona é que, à medida que a educação se tem
aprofundado, ao ponto de se falar que temos a “geração mais preparada de
sempre”, isso não se tenha reflectido na qualidade do debate público. Das duas,
uma: ou o investimento na educação é uma gigantesca fraude ou os políticos que
presumem a imbecilidade dos portugueses vão-se dar mal.
Todos podemos ansiar por um país mais rico e próspero, mas
não há riqueza nenhuma que compense o subdesenvolvimento mental. Não há nada
mais devastadoramente empobrecedor do que um debate público débil, que não
promove o conhecimento, o rigor, a elevação. A pobreza intelectual e cultural é
uma corrente que nos impede de navegar e descobrir novos mares e novas terras.
Infelizmente, quem se tem destacado mais na pobreza do
discurso tem sido António Costa, em profundo contraste com as elevadíssimas
expectativas que acompanhavam a sua candidatura. É como se António José Seguro
sempre tivesse sido olhado como um pobre coitado, a quem se desculpavam as mais
óbvias inanidades, enquanto Costa terá sempre que ser analisado com muito maior
exigência.
Primeiro, foi a baboseira de que a “riqueza” era a
alternativa à austeridade, embora se tenha esquecido de nos dizer em que botão
é que se carregava para fazer jorrar essa tal riqueza.
A nova pérola é que a sustentabilidade da Segurança Social
não exige cortes nas pensões, mas a criação de emprego, tendo-se esquecido,
mais uma vez, certamente por lapso, de nos informar qual é manípulo que é
necessário accionar para gerar esse emprego aos magotes. Também se esqueceu que
temos 1,2 trabalhadores empregados por cada pensionista, sendo que muitas centenas
de milhar de pensionistas recebem pensões muito acima do que contribuíram. Para
além disso, Portugal apresenta um dos índices mais graves de envelhecimento da
população, pelo que qualquer ideia que é possível deixar as pensões intactas
não passa de demagogia ou fantasia.
Dado que António Costa deseja ganhar as eleições
legislativas de 2015 com maioria absoluta, seria muito útil que arranjasse –
com caracter de urgência – um ministro das finanças para o seu próximo governo.
Este poderia explicar-lhe uma série de coisas que o candidato ainda não
percebeu e limitar o chorrilho de disparates que vem proferindo. Também existe
o problema de, se não parar rapidamente com a asneirada, já não conseguir
nenhum ministro das finanças com um mínimo de qualidade, por duas razões. Por este
perceber que teria que desmentir demasiadas coisas ou por tomar consciência de
que nunca receberia o apoio do primeiro-ministro. Ocupar aquele cargo sem o
apoio indefectível do chefe do governo, num período de dificuldades excepcionais,
seria um suicídio político.
Ganhar eleições (mas nunca com maioria absoluta, que os
eleitores não são os imbecis que o candidato presume) com base em promessas
miríficas, que serão esmagadas logo a seguir, dará um profundo rombo na
legitimidade do novo primeiro-ministro e do seu governo.
Acresce que o Tribunal Constitucional acaba de dificultar a
preparação do orçamento de 2016, o primeiro desafio que o novo governo
enfrentará.
Na verdade, se fôssemos levar à letra as promessas de
António Costa, teríamos a troika de
regresso, pouco tempo após o início do novo executivo. Seria a quarta
pré-bancarrota em pouco mais de 40 anos e o fim mais do que provável do regime.
1 comentário:
Não podia concordar mais com este e outros posts neste blog.
Execelente analise.
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