O novo governo alemão
não deverá mudar a sua posição sobre o euro
1. Após as eleições legislativas na Alemanha, a 22 de
Setembro último, foram necessários quase três meses de negociações para se
chegar a um novo governo. O anterior líder dos socias-democratas demitiu-se durante
o impasse e Sigmar Gabriel tomou o seu lugar, sendo agora vice-chanceler.
As negociações levaram mais tempo do que o comum, porque o
novo presidente do SPD decidiu dar aos militantes do seu partido a oportunidade
de votar sobre o acordo de coligação. Os membros deste partido acabaram por o
aprovar, com uma maioria de 75%.
O SPD conseguiu algumas concessões por parte dos democratas
cristãos, que Angela Merkel não parece ter tido dificuldade em fazer aceitar
dentro do seu partido, tais como a criação de um salário mínimo nacional.
O capítulo sobre política europeia no tratado da coligação
não é muito inspirador. Os subscritores dizem que mantêm um forte compromisso
com a UE e o euro, mas dificilmente poderiam dizer outra coisa.
Tal como no resto do texto, e daí a sua fácil aprovação pelo
SPD, os conflitos entre objectivos são tratados segundo a máxima: “é preferível
ser rico e com saúde do que pobre e doente”. Querem consolidação orçamental; e
crescimento. Uma Europa mais forte; e subsidiariedade. Mais solidariedade;
desde que os países assumam responsabilidade pelos seus próprios problemas.
Julgo que a questão essencial é que a Alemanha não está
mesmo disponível para uma união de transferências, seja qual for a forma em que
esta venha mascarada.
Entendo que existe um enorme equívoco em todos aqueles que
olham para uma Alemanha imperialista, que tudo fará para mandar nos outros
países. O verdadeiro objectivo da Alemanha é não pagar a factura dos outros,
exausta da factura da reunificação. Se Merkel é – e continuará a ser – exigente
sobre as contas públicas dos outros, é-o não pelo desejo de mandar, mas pelo
desejo de não pagar.
Isto significa também que a Alemanha continuará firmemente
contra as reformas estruturais que são essenciais para a sobrevivência a médio
prazo do euro. Podem continuar iludidos com a aparente calmaria que domina a
crise do euro, mas não há uma única reforma estrutural que tenha sido tomada
até hoje e não parece haver condições políticas para que estas sejam aprovadas
no futuro. Há aqueles que, ainda assim, têm a esperança de que, chegada a hora,
as medidas serão tomadas. O problema é que os líderes europeus só perceberão
que a “hora” chegou, quando ela surgir sob a forma de um tsunami financeiro, perante o qual eles se estarão impotentes.
Quando se aperceberem que já não podem adiar as decisões já será tarde demais.
2. Apesar de não ser apreciador de futebol, só assistindo a
alguns jogos com a selecção nacional, surpreendi-me com a forma como a morte de
Eusébio me tocou, bem como a milhões de outros portugueses.
Partilhando com muitos outros milhões o defeito nacional de
só valorizar o que é português quando ele recebe aclamação internacional,
fiquei especialmente sensibilizado com as demonstrações realizadas no
estrangeiro, sobretudo em Espanha e Inglaterra, onde estádios inteiros
demonstraram o seu apreço pelo nosso Eusébio.
Provavelmente, terá sido esta projecção internacional do
nosso “rei”, que gerou o despeito em Mário Soares, que o levou a produzir frases
não só infelizes, como totalmente erradas do ponto de vista político.
Apesar da unanimidade no parlamento de aprovar a trasladação
dos restos mortais de Eusébio para o Panteão, há uma lei que diz que é preciso
esperar um ano. Esta lei tem um dos piores defeitos da nossa legislação: a
hiper-regulamentação.
Não há nenhuma alma que se lembre de mudar a lei? Mas quem
merece ir para o Panteão não é obviamente merecedor? Para que é que a lei
precisa de definir um compasso de espera? Se houver dúvidas, discute-se e
adia-se a decisão. Se não houver dúvidas, decide-se logo. Se querem um tempo
para ter uma perspectiva histórica, então 50 anos é o mínimo, um ano não faz
diferença.
[Publicado no jornal“i”]
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