Este início de 2014 tem sido especialmente favorável, quer
na frente externa, quer interna, o que poderá estar a criar um optimismo pouco
justificado.
As taxas de juro de longo na zona do euro têm vindo a cair
sucessivamente, sugerindo um ambiente favorável, mas a verdade é que nenhuma
reforma estrutural do euro foi, até agora, aprovada e as que o foram são
manifestamente insuficientes, como é o caso da união bancária. Há vários riscos
para os próximos meses, que poderão desfazer o optimismo actual.
O Tribunal Constitucional alemão pode decidir contra o
programa do BCE que tem acalmado os mercados obrigacionistas, destruindo todo o
efeito deste. As eleições europeias de Maio deverão produzir o maior grupo
parlamentar anti-UE e anti-euro, que poderão forçar os partidos do centro a
apoderarem-se de certas agendas mais radicais, insuflando receios sobre o
futuro do euro. Mais para o final do ano, esperam-se os testes de stress da banca, que poderão conduzir a
mais ajudas públicas, reforçando os riscos de contágio entre a banca e a dívida
pública.
Em data mais incerta, poderá ocorrer o segundo perdão à
dívida grega, envolvendo necessariamente os credores oficiais, que
corresponderá a passar a linha vermelha entre empréstimos e ajuda, podendo
fomentar o pânico da muito detestada, sobretudo na Alemanha, união de
transferências. Ultrapassar esta linha também pode fazer recrudescer as
suspeitas sobre a sustentabilidade do euro.
No plano interno, a boa execução orçamental de 2013, os
sinais crescentes de retoma económica e de queda do desemprego justificam algum
optimismo, mas é de evitar qualquer euforia sobre a não necessidade de um
programa externo cautelar.
Com uma dívida pública de quase 130% do PIB e uma dívida
externa de mais de 110% do PIB estamos e continuaremos a estar fortemente
dependentes dos investidores externos, num grau muitíssimo superior à Irlanda,
pelo que seria uma imprudência tentar prosseguir a consolidação orçamental sem
uma rede de segurança.
Para além disso, sem programa cautelar há o risco de o
Estado ficar muito dependente do financiamento da banca portuguesa que, assim,
poderá ser forçada a cortar o financiamento à economia, travando a própria
recuperação em curso.
Para além disso, temos ainda os riscos políticos. Um dos
obstáculos ao financiamento público português prende-se com a falta de um
consenso político alargado sobre o programa de ajustamento que terá que se
prolongar ainda por muitos anos. O governo desperdiçou, de forma absurda, o
facto de ter sido o PS a assinar o memorando com a troika e tem mostrado uma grande dificuldade em emendar a mão.
Se, como as sondagens indicam, o PS perder as eleições
europeias, António José Seguro deverá ser rapidamente contestado e corre-se o
risco de passarmos a ter um PS ainda mais longe do actual executivo, agravando
as actuais condições de falta de consenso político e de dificuldades de
financiamento.
[Publicado no Jornal de Negócios]