A vitória do PS em eleições
antecipadas tornará todos os cortes de pensões e salários constitucionais
1. Ainda sem conhecer muitos detalhes sobre a proposta de orçamento
para 2014, arrisco-me a prever que teremos eleições antecipadas num futuro não
muito distante. A quase cisão da coligação, aquando a demissão “irrevogável” de
Portas, em Julho, não foi resolvida de nenhuma forma credível.
O novo vice-primeiro-ministro recebeu vários presentes
envenenados, mas não me parece que esteja disponível para beber o veneno até ao
fim. Parece-me razoável prever o fracasso da reforma do Estado, bem como da
própria proposta de orçamento. O momento da ruptura final poderá ocorrer fruto
de quaisquer novas exigências da troika,
que, ainda assim, está muito benevolente, porque já tomou consciência da
necessidade de um segundo resgate. No entanto, também poderá ocorrer por outro
qualquer pretexto, dada a fragilidade da coligação.
Das eleições antecipadas poderá resultar um governo de
coligação do PS, por um lado, com o PSD ou o CDS. Dados os malabarismos que
Paulo Portas já fez, parece mesmo que a segunda hipótese tem alguma
probabilidade de se concretizar, desde que os resultados eleitorais permitam
gerar um governo maioritário dessa forma.
Tenho mesmo que confessar que essa solução me parece a
ideal, já que um novo Bloco Central reduz a possibilidade de desenho de
alternativas.
O novo governo, espero que não tenham ilusões sobre isso,
será obrigado a ter uma política muito semelhante ao actual, até por estar
muito condicionado pelo acordo com a troika
(seja ele o primeiro ou o segundo). Haverá certamente uma outra roupagem no
anúncio das medidas, mas estas serão, no essencial, as mesmas.
Nem sequer é de esperar mais competência, antes pelo
contrário.
Espero que então os portugueses percebam que muitas das
políticas actuais não são escolhas do actual executivo, mas medidas ditadas
pela necessidade de pagar as facturas das últimas décadas de desvarios.
A parte que antecipo com maior divertimento é a expectável
alteração radical na posição do Tribunal Constitucional (TC). O que antes era
obviamente inconstitucional vai passar a ser claramente constitucional. Tem
sido sempre assim: o TC tem um enviesamento partidário anti-direita,
independente das questões concretas em análise. Assim, todos os cortes em
pensões e salários, toda a “destruição do Estado social” passará a estar
conforme com a constituição.
O eleitorado é que é capaz de se rebelar contra os partidos
do arco da governação, que nos trouxeram até aqui, que não têm competência para
resolver os problemas criados e, ainda por cima, nem falam verdade. Pode bem
ser a certidão de óbito de todos eles, embora seja hoje ainda incerto o que os
poderá substituir.
2. Em França, em Brignoles, a Frente Nacional de Marine Le
Pen ganhou as eleições intercalares. De acordo com uma sondagem a nível
nacional, este partido estaria à frente dos dois principais partidos do regime,
uma situação inédita. Mais importante ainda, ela está a ganhar votos em antigos
bastiões socialistas.
Marine não é tão extremista como o pai e já não é encarada
como um atentado à democracia. No entanto, ela pretende referendar a
permanência do país na UE e, sobretudo, defende a saída do euro.
As próximas eleições europeias, a disputar em Maio de 2014,
prometem, assim, ser muito interessantes. Em França deve ganhar o partido que
defende uma retirada rápida e concertada do euro; na Alemanha, o partido
Alternativa para a Alemanha também deverá conquistar alguns lugares, sendo a
sua bandeira principal a saída do euro; em outros países, como a Holanda,
também se antecipa a conquista de assentos parlamentares por parte de partidos
com idêntica orientação.
Teremos então um grupo parlamentar europeu significativo,
mesmo que não formal, a tornar este tema incontornável. As consequências disto
só podem ser acelerar o fim do euro.
[Publicado no jornal "i"]
1 comentário:
Pedro Braz Teixeira estamos a mudar de panorama?
Vejamos, o CDS, como vc analisa, fará tudo para manter a face junto do eleitorado, para mais agora depois do que aconteceu com o FDP nas últimas eleições alemãs. O CDS terá de partir a coligação antes do fim da legislatura?
No entremeio vc levanta essa questão de supraimportância que anda a incubar nos Portugueses: quando e em lugar se deve analisar e condenar os desvarios da década passada, e quem os culpados?
Só os Portugueses ou quase todos os outros parceiros da União Europeia?
A única forma de o evitar, pensam os partidos, é evitar a todo o custo o óbvio, o bloco central. O óbvio é o rebelar contra os partidos, e isso se verá já nas próximas legislativas.
E o rebelar das populações no Parlamento europeu parece-me indicar claramente que o fim do euro tem finalmente possibilidade de acontecer por via institucional.
Sem implosão mas desmantelamento.
Sem dúvida o mais inteligente para a Europa (embora óptimo seria Portugal sair e Espanha se manter)
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