Com o aproximar das
eleições autárquicas, gostava de partilhar algumas ideias sobre o que considero
serem alguns dos absurdos de Lisboa, na (diminuta) expectativa que algumas
delas possam ser aproveitadas por alguns dos candidatos municipais.
A expansão da área metropolitana da capital iniciou-se há
cerca de cinco décadas, não porque o concelho já estivesse totalmente ocupado,
mas porque uma parte significativa, por qualquer razão, não foi urbanizada.
Criou-se o absurdo de obrigar as pessoas a fazerem percursos
diários de dezenas de quilómetros e várias horas quando, por exemplo, muita da
parte oriental de Lisboa, próxima da urbe romana de há dois mil anos, era um
vasto “baldio”.
Há meio século isto era um disparate, mas o mais absurdo é
que, ainda hoje, subsista tanta área não urbanizada no concelho (basta olhar em
torno do centro comercial da Bela Vista).
Mais absurdo ainda, a zona ribeirinha (uma característica
muito apreciada) entre Santa Apolónia e o valorizadíssimo Parque das Nações está
uma vergonha, abandonada e decrépita. Como é possível que quase 20 anos depois
da requalificação da zona da Expo, a área que a precede, que devia até ser mais
procurada, por ser mais central, estar a calamidade que está? Como é que a
câmara se tem demitido disto? Como é que anda a gastar em obras faustosas nas
zonas mais centrais, que não necessitavam de intervenção, e se ignorou as
necessidades das zonas mais degradadas e com grande potencial?
Outro cancro absurdo de Lisboa são os prédios em ruínas há
décadas, muitas vezes em algumas das zonas mais valorizadas da cidade. Como é o
possível que o município continue a demitir-se de um dos mais óbvios problemas
do seu território? Na Fontes Pereira de Melo (uma das zonas de maior trânsito,
incluindo de turistas) há um quarteirão zombie há um tempo infindo,
aparentemente devido a um braço de ferro entre o promotor imobiliário e a autarquia.
Quando é que acabam com isto?
Subsistem também quartéis, virtualmente desocupados,
sobretudo desde o fim do serviço militar obrigatório, que deveriam ser
devolvidos à cidade, com potenciais valorizações significativas para as forças
armadas, mesmo que fossem apenas de mudança de local para fora da cidade.
O aumento do turismo tem feito escassear o alojamento no
centro de Lisboa, levando muita gente a vociferar contra isto. Quase todas as
propostas contra o turismo, um objectivo já de si absurdo, por ser um dos
poucos a gerar emprego, são pouco recomendáveis. Falta a proposta mais óbvia, a
que faço: aumentar a oferta de alojamento na cidade, quer pela urbanização de
baldios, quer pela recuperação de prédios em ruínas, quer pela transformação de
antigos quartéis.
Para além de que o aumento da área edificada iria aumentar
as receitas fiscais da câmara (não é isto incentivo suficiente?), o que
permitiria eliminar algumas pseudo “taxas” (impostos encapotados) municipais,
cuja inconstitucionalidade já foi cabalmente demonstrada, como é o caso da
“taxa” de protecção civil.
[Publicado no jornal online ECO]
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