A mobilidade em Lisboa
está a piorar, com um ataque sádico ao automóvel e uma degradação dos transportes
públicos.
Ao contrário das principais capitais europeias, praticamente
não há grandes parques de estacionamento junto de estações de comboio fora da
cidade, com preços necessariamente convidativos, para que as pessoas cheguem de
modo ferroviário. Provavelmente, dentro da câmara de Lisboa há o entendimento
de que obras fora da cidade não são para o município fazer, o que é absurdo,
porque isso é essencial para o bem-estar dos lisboetas.
Nas ligações rodoviárias há outras situações absurdas, que
ninguém entende. Porque é que a ligação entre a A5 e o eixo Norte-Sul (na
direcção de Lisboa), uma conexão essencial, se faz através de uma gincana que
inclui um semáforo? Porque é que a ligação entre a CRIL e a 2ª circular se faz
normalmente com duas faixas, excepto num troço de apenas 100 metros, onde só há
uma faixa? Quem é que projecta estas isto?
É evidente que a geografia de Lisboa, ao contrário da de
Madrid, dificulta a expansão da rede de Metro, mas qual é a lógica de gastos
sumptuários da decoração das estações, em detrimento do aumento da área da
cidade coberta? Porque é que, enquanto se ataca (de forma abusiva e irracional)
o uso de automóveis, o serviço do Metro se degrada profundamente?
Se se pretende diminuir o uso de automóvel, qual a lógica de
substituir faixas de rodagem por faixas de estacionamento, que permite aumentar
o número de veículos que entra na cidade? Esta contradição revela o verdadeiro
motor das obras desvairadas em curso: sadismo contra o automóvel. Não faria
mais sentido construir parques de estacionamento subterrâneo e retirar muito do
actual estacionamento de superfície, deixando espaço para maior mobilidade?
De novo, porque é que há uma degradação também da Carris, porque
é que fecharam carreiras? Tudo isto é absurdo, o que faria sentido era uma
clara melhoria dos transportes públicos.
Qual é a lógica de quem está contra mais automóveis na
cidade ter defendido a criação de uma terceira travessia do Tejo, que traria
necessariamente mais veículos para a cidade?
Toda esta sanha contra o automóvel é a importação – tardia e
desastrada – de uma moda europeia que está em vias de deixar de fazer sentido,
com a massificação dos veículos eléctricos. Porque é que temos tanto esta
tendência de imitar os outros quando aquilo que imitamos está (quase) a ficar
desactualizado?
O pior de tudo é a forma completamente autocrática de agir
do executivo de Medina. As populações não foram envolvidas no desenho das
soluções, que não foram discutidas publicamente com tempo. Dar duas semanas para
discutir não é sério, impede instituições, como por exemplo a Ordem dos
Engenheiros, de elaborar estudos sérios. Para além disso, depois das decisões
tomadas, que grande irritação provocaram, não há um pingo de empenho pedagógico
de mostrar as alegadas vantagens. O que isto tem de mais extraordinário é
acontecer num contexto autárquico, onde era suposto haver a máxima aproximação
entre o poder e os eleitores. É como se não pensassem nas consequências
eleitorais de irritar os eleitores e, neste aspecto, a oposição tem falta a
vermelho, porque foi incapaz de defender a população e de aproveitar esta
oportunidade que lhe foi oferecida de bandeja.
[Publicado no jornal online ECO]