Desiludam-se os que
pensam que Portugal tem muito a ganhar em sair do euro
Como já aqui referi, a discussão de saída do euro vai voltar
a estar em cima da mesa, como já esteve em 2011 e 2012, quer em função das
eleições na Holanda, em França, na Alemanha e em Itália, quer também por
iniciativa do PCP em Portugal. Por isso, convém falar sobre o assunto, para
desfazer ilusões e equívocos.
Em primeiro lugar, é importante distinguir entre saída do euro
e fim do euro. Neste último caso, haveria um acordo consensual de que não seria
conveniente ou sustentável prosseguir com a moeda única e ter-se-ia que chegar
a acordo sobre os termos desse fim, uma negociação difícil, porque estariam
envolvidos valores muito vultuosos e também porque não existem regras sobre o
assunto, porque o euro foi criado para ser irrevogável, uma falta de humildade incrível
dos seus criadores.
O caso da saída isolada de um país é muitíssimo diferente,
porque seria previsivelmente feito contra a vontade de todos os outros e iria
gerar uma enorme instabilidade sobre todo o sistema, ao abrir a porta a outras
saídas, agravando as taxas de juro de todos os países em dificuldades e podendo
mesmo criar a necessidade de novos resgates aos Estados mais frágeis. Por tudo
isto, é de esperar que as condições negociadas por um país isolado sejam
especialmente duras.
A questão seguinte é distinguir as consequências para os
países de uma saída isolada, em função das suas condições actuais, concentrando
essa análise em apenas duas variáveis (por uma questão de espaço): a taxa de
câmbio e as taxas de juro de longo prazo.
A saída da Alemanha (o ideal para começar o fim do euro)
iria provocar uma clara apreciação do novo marco alemão face ao euro e talvez
uma ligeira subida das suas taxas de juro, que estão a nível demasiado baixo,
gerando protestos de muitos alemães, tendencialmente poupadores.
A saída da Holanda, que também tem um elevado excedente
externo, deveria ter consequências semelhantes às da Alemanha, podendo-se
considerar que os seus efeitos serão alguma melhoria do poder de compra
associada a algum abrandamento da economia pela apreciação da moeda, efeitos
que tenderiam a se anular mutuamente.
No caso de França, com algum défice externo, poderia ter
lugar uma depreciação modesta e uma ligeira subida das taxas de juro, o que
poderia ser encarado, no global, como moderadamente positivo, com a depreciação
a ajudar a reduzir o desemprego, pelo efeito de aumento da competitividade.
No caso da Grécia, estima-se que a retirada do euro
conduzisse a uma depreciação brutal, da ordem dos 50%, que não poderia ser
compensada por subida de salários, sob pena de se entrar numa espiral
inflacionista, sempre incapaz de impedir a queda dos salários reais (descontada
a inflação). Ou seja, a saída do euro seria seguida por uma forte queda do
poder de compra, que poderia ser em parte compensada por uma queda acentuada do
desemprego, desde que (uma hipótese heróica) o país não entrasse num período de
instabilidade económica e política.
O caso português está, infelizmente, mais próximo do caso
grego, estimando-se que necessitaríamos de uma depreciação real entre 20% e
30%, à qual corresponderá uma forte queda do poder de compra. No nosso caso, já
seria mais razoável estimar uma redução do desemprego, porque a nossa economia,
durante a intervenção da troika, teve
uma depreciação real muito menor do que na Grécia, mas o crescimento das
exportações foi muito superior.
A análise precedente foi muito circunscrita sobre os efeitos
da saída do euro, mas há duas conclusões que ressaem. Por um lado, uma saída
isolada é muito mais penalizadora do que uma saída colectiva ou fim do euro.
Por outro, Portugal é dos países que poderá perder mais com uma saída isolada do
euro. Convinha que os portugueses percebessem isto e não caíssem nos cantos de
sereia do PCP.
[Publicado no jornal online ECO]
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