Se se vai voltar ao
investimento público, é essencial não repetir os erros do passado e deixar de
construir elefantes brancos e obras da mais duvidosa utilidade
O investimento público foi o grande sacrificado na execução
orçamental de 2016, tendo sofrido uma forte queda, ao contrário da expansão projectada,
para acomodar o insucesso da estratégia económica do governo, que abrandou
fortemente a economia e comprometeu as metas para as receitas fiscais.
Em 2017 e anos seguintes, parece que o executivo quer
reviver o investimento público, embora não seja certo que conseguirá recursos
para o fazer.
De qualquer forma, é importante esclarecer que o
investimento público pode promover o crescimento económico por duas vias, a
procura e a oferta, e não é nada indiferente qual delas é predominante.
Pela via da procura, o crescimento é promovido pela criação
de emprego nas obras públicas e equipamento durante a fase da construção do
investimento. Em alguns casos, esse é mesmo o único efeito produzido, como é o
caso do estádio de Leiria, onde só se realizou um jogo de futebol.
Pela via da oferta, da produção, o investimento público estimula
o crescimento se melhorar a capacidade produtiva do resto da economia. Um dos
casos mais evidentes foi a construção da auto-estrada Lisboa-Porto, que gerou
uma alternativa vital à estrada nacional número 1, que se tinha tornado num
obstáculo gigante ao transporte de pessoas e bens entre as duas principais
cidades (e regiões) do país. A construção desta auto-estrada ajudou o PIB do
lado da procura até ao início dos anos noventa, mas ela tem ajudado a
actividade económica do lado da oferta desde então, sendo evidente que os
benefícios deste investimento do lado da oferta são muitíssimo superiores aos
do lado da procura, que já se esgotaram há mais de 25 anos, se exceptuarmos os
insignificantes investimentos de reparação e conservação.
Como se pode ver deste exemplo, os benefícios do
investimento público do lado da procura têm uma duração muito limitada,
enquanto os que derivam do lado da oferta se prolongam durante muito tempo.
Infelizmente, para políticos míopes ou com receio de não ser reeleitos, o que é
importante são os resultados de curto prazo, o que gera um foco em investimento
público cujos benefícios (quase) se esgotam do lado da procura, o que é péssimo.
As inúmeras auto-estradas do interior praticamente vazias
poupam pouco tempo de viagem a um número limitado de veículos. Assim, o
benefício que trazem é muito inferior ao custo que ainda hoje pagamos por elas
todos os anos, sob a forma de juros da dívida pública em que foi necessário
incorrer para as financiar.
Infelizmente, temos um excesso de exemplos de mau
investimento público, desde grande parte do investimento municipal, as obras
sumptuárias da Parque Escolar, os estádios de futebol do Euro, o aeroporto de
Beja, etc., etc.
Há a ideia de mudar o porto de Lisboa para o Barreiro, cujas
condições naturais são muito piores, o que corresponderá a deitar para o
caixote do lixo todo o investimento já realizado na capital, o que é uma
loucura, para além de se criar tráfego rodoviário entre as margens do Tejo,
actualmente já muito congestionadas.
O investimento público com lógica seria tornar (quase) todos
os edifícios públicos eficientes em termos energéticos, o que é algo que se
paga num número reduzido de anos. Nos portos existem também alguns
constrangimentos que requerem algum investimento. Na verdade, deveria haver uma
lista extensa com grande variedade de investimentos potenciais, para se fazer
uma ordenação deles, em função da sua genuína utilidade. É claro que há sempre
a capacidade de fazer asneira perante uma necessidade, como foi o caso do novo
Museu dos Coches.
[Publicado no jornal online ECO]
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