As mudanças trazidas
por 2016, deveriam levar-nos a pensar que os próximos cinco anos deverão trazer
alterações profundas no euro, nos fundos comunitários e na própria UE.
Julgo que poucos duvidarão que os historiados futuros
considerarão o ano de 2016 como de viragem. Quer o Brexit, quer a eleição de
Trump representam um corte com as tendências políticas do pós-guerra, de
integração europeia no primeiro caso e abertura ao exterior no segundo, para
além de também terem em comum o facto de terem sido negados até à véspera.
Ainda não sabemos quais são as alterações que se seguem, mas podemos
conjecturar algumas delas num prazo de, digamos, cinco anos. Tal como nos casos
referidos, muitos as negarão até se verem confrontados com elas.
O fim do euro é certamente algo a ponderar neste prazo,
porque as tensões de desagregação da UE são fortes e a moeda europeia está na
base de muitas destas dificuldades e enfrenta uma crescente oposição política
em inúmeros países.
Fora do euro, Portugal ficará numa posição muito mais frágil,
e tanto mais frágil quanto mais erros cometer antes do final desta moeda. A
razão porque a DBRS nos salvou do lixo foi por acreditar no enquadramento do
euro como fortemente disciplinador do país. Sem euro, essa rede de segurança
desaparece e ficamos muito mais sozinhos. Aí, o que passa a contar é a nossa
história nacional e ela não é brilhante nem antes do euro nem durante.
Conseguem imaginar os custos brutais de acrescentar a isso uma restruturação da
dívida? Um problema de reputação não é muito caro dentro do euro, mas é
caríssimo fora da moeda única.
Uma razão adicional para nos portarmos bem é que as
condições de saída do euro não estão definidas e quanto melhores as nossas
“notas”, mais poder negocial teremos.
Com a diminuição da solidariedade europeia em curso, não
custa nada imaginar que o orçamento comunitário, se existir, será muito menos
generoso a partir de 2021, pelo que, por esta via, também ficaremos mais
dependentes de nós próprios.
A própria UE, se sobreviver aos próximos cinco anos, será
uma versão empalidecida da de hoje, mais enfraquecida e desprestigiada.
O que isto implica para Portugal, é que precisamos de ser
muito “bom aluno” e fazer o trabalho de casa para nos prepararmos para um mundo
em que não podemos contar muito nem com a solidariedade nem o prestígio da UE.
Temos que ter as contas públicas na ordem, sem artifícios
nem ilusões, e precisamos de reformas estruturais sérias para sairmos da
estagnação dos últimos 16 anos. A nossa envolvente vai-se deteriorar e se não
nos prepararmos, vamos pagar caro por isso.
É claro que se nenhum destes riscos se materializar, não
perdemos nada em nos termos portado bem, muito pelo contrário. Ou seja, não há
desculpa nenhuma para evitar fazer o que precisa de ser feito.
[Publicado no jornal online ECO]
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