Os salários na banca
continuam muito inflacionados por políticas artificiais e insustentáveis do
passado e precisam de cair de forma generalizada
Em 1995, as contas externas portuguesas estavam equilibradas
num triplo sentido: o saldo corrente era equilibrado; a dívida externa
insignificante (menos de 10% do PIB); a AutoEuropa começou a produzir e a
exportar, melhorando a qualidade das nossas exportações.
A partir daí, encetou-se um ciclo de foco na procura
interna, com os piores resultados possíveis: explosão da dívida externa (até
mais de 100% do PIB); a pior década de crescimento dos últimos cem anos (a
partir de 2000); a necessidade de pedir ajuda à troika.
O sobre-estímulo da procura interna levou a uma expansão
insustentável da dimensão do sector não transaccionável (essencialmente
serviços e construção), bem como dos seus preços e salários. Para além deste
estímulo genérico, o sector financeiro recebeu mais um e inventou um outro, que
se viria a verificar como totalmente ilusório.
O benefício adicional consistiu na extraordinária descida
das taxas de juro, associada à caminhada para a adesão ao euro, que geraram uma
enorme expansão do crédito, que seria sempre necessariamente temporário. Mais
grave do que a própria expansão do crédito foi a sua absurda concentração nos
sectores da construção e imobiliário, que jamais poderiam gerar receitas
externas para pagar a dívida externa que foi necessário incorrer para que o
crédito crescesse tanto.
O benefício inventado foi a concessão imprudente de crédito
e a aplicação em produtos complexos, com riscos muito camuflados.
Com estes três estímulos o sector financeiro, em particular
a banca, aumentou excessivamente a sua dimensão e permitiu-se pagar salários
muito superiores, em todos os escalões, ao que seria possível pagar em outras
circunstâncias. Há quem tente afirmar que foi o mercado que decidiu esses
valores, mas este mercado foi completamente distorcido por uma política
macroeconómica tão errada quanto insustentável.
Para se ter uma ideia mais clara disto, imaginem recalcular
os resultados dos bancos dos últimos sabendo o que sabemos hoje. Muitos lucros
se transformariam em prejuízos, teriam sido distribuídos muito menos bónus e
muito menores aumentos salariais.
Se há sector em que a média histórica não pode ser guia, ele
é o da banca, que ainda não fez o ajustamento necessário. Alguns bancos já
fizeram adaptações na quantidade, fechando balcões e dispensando funcionários,
mas ainda não corrigiram o preço, em particular nos salários, que deveriam
sofrer cortes significativos, sobretudo nos escalões mais elevados.
O referencial de salários para a banca deveria ser as
remunerações nas grandes empresas exportadoras, porque essas é que são o
referencial da competitividade do país. A CGD, como grande banco público, em
vez de ser seguidor do que os privados fazem, deveria ser o líder da adaptação
que todos os bancos necessitam de fazer e ajustar os seus salários em
conformidade.
Aliás, dado que a banca está em situação muito precária,
deveria baixar claramente os salários de topo, para que estes dirigentes
entendessem ser mais atraente trabalhar noutros sectores, em particular os
sectores transaccionáveis (agricultura, indústria e turismo), onde são muito
mais necessários ao país. A redução generalizada dos custos salariais da banca
também permitiria melhorar a sua rentabilidade e diminuir a sua actual
fragilidade.
Director do Gabinete
de Estudos do Forum para a Competitividade
As opiniões expressas
no texto são da exclusiva responsabilidade do autor
[Publicado no jornal online ECO]
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