Este governo tem-se
especializado numa atitude completamente irresponsável com a banca, desde o
Banif à CGD e ao Novo Banco. Em
relação a este a irresponsabilidade entrou na estratosfera, ao sugerir a sua
possível liquidação dentro de um ano. Querem gerar o pânico e uma corrida aos
depósitos?
O sector bancário continua extremamente fragilizado,
carregando os excessos do passado, tendo que sofrer todo o crédito malparado
gerado pela crise e difícil recuperação desde 2008 e ainda as taxas de juro
muito baixas e, mais recentemente, negativas, que criaram um rombo
extraordinário na rentabilidade destas instituições.
Com todos os custos que esta fragilidade, somada à má gestão
e desonestidade em alguns casos, já teve para os contribuintes, esperar-se-ia
que os governos tivessem a maior cautela em gerir a sua relação com o sector e
que, especialmente, não criassem ainda mais custos para as vítimas do costume.
No entanto, este executivo tem tido um comportamento
incompreensível, seja qual for o ângulo em que seja avaliado. Porque é que o
Banif foi vendido à pressa com tantos custos para os contribuintes? Ainda
ninguém nos forneceu uma resposta cabal, incluindo-se aqui o Banco de Portugal,
que também tem estado muito longe de ter uma atitude irrepreensível, como seria
exigível.
Em relação à CGD, soubemos agora que desde Dezembro que a
administração cessante esperava uma resposta do governo em relação à sua
proposta de recapitalização do banco, que não envolvia recursos públicos. Qual
a razão para deixar esta instituição tão importante numa total indefinição
estratégica? O que levou o ministro das Finanças a lançar as maiores suspeitas
sobre “buracos” na Caixa? Destruir património público, só para ganhar umas
magras lentilhas políticas?
Parece evidente que a CGD foi utilizada pelos partidos de
governo para fazer favores políticos (ou outros…) e que é necessária uma
reforma institucional na sua forma de gestão, para que não tenhamos uma
recapitalização que apenas se destina a fornecer mais dinheiro para repetir
todos os erros do passado.
Já se percebeu que o actual executivo não está nada
interessado em conhecer de forma detalhada – e pública – todas essas más
decisões, mas ao menos poderia ensaiar um simulacro de reforma. Em vez disso,
fez escolhas que indiciam que pretendem a continuação do caldo de cultura que
permitiu os desmandos do passado. Em primeiro lugar, ter a mesma pessoa como
presidente da comissão executiva e do conselho de administração, uma opção já
criticada pelo BCE. Depois, ter como administradores não executivos, que
deveriam fiscalizar a comissão executiva, antigos ministros dos partidos
responsáveis pelo desastre da CGD e sem experiência bancária. Se não têm
experiência no sector, como é que o podem fiscalizar? Isto é ou não é o perfil
ideal para não mudar nada de substancial nas condições que nos trouxeram ao
buraco actual?
Mas se queriam tomar todas estas más decisões, porque é que
não as tomaram há mais tempo? Porque é que os perfis dos candidatos aos novos
órgãos sociais não foram submetidos a aprovação atempadamente? Aliás,
sublinhe-se também que o BCE não encara nada com bons olhos a mudança de todos
os nomes anteriores, preferindo uma substituição paulatina da administração.
Em relação ao Novo Banco, a irresponsabilidade deste governo
entrou na estratosfera, ao sugerir a sua possível liquidação dentro de um ano.
Querem gerar o pânico e uma corrida aos depósitos? Querem desvalorizar este
banco, para só se conseguir vender por tuta e meia, e os contribuintes ficarem
com a factura mais elevada possível? Querem que a divida pública atinja um novo
máximo? Querem que a factura dos juros do Estado aumente o mais possível?
[Publicado no jornal “i”]
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