Estamos com um
conjunto de incertezas (Brexit, eleições espanholas, crise dos refugados,
orçamento de 2017) que, se correrem bem, não será grande coisa mas, se correrem
mal, será péssimo
Os dados do PIB do 1º trimestre confirmaram a desaceleração,
com destaque para a queda homóloga do investimento. Ou seja, tivemos o
agravamento daqueles que já eram alguns dos principais problemas económicos, a
falta de crescimento e de investimento, a que se tem que somar a falta de
emprego, que também não está a evoluir favoravelmente.
Perante estes dados, o ministro das Finanças teve o
desplante de dizer que era necessário dar tempo às reformas estruturais para
funcionarem. Afinal, as reformas tão criticadas e que este governo está a
desfazer eram úteis. Querem maior contradição? Mais ilógico ainda é usar este
argumento para justificar uma desaceleração. Se fosse para explicar uma
aceleração demasiado lenta, percebia-se, mas para racionalizar uma perda de
força muito mais vincada do que no resto da Europa, não tem ponta por onde se
lhe pegue.
Mesmo assim, o valor do PIB está empolado pela acumulação de
existências, de caracter claramente involuntário. Tudo indica que as empresas
produziram mais do que o que conseguiram vender, pelo que no segundo trimestre
terão reduzido a sua produção para escoar aquilo que entretanto se acumulou em
armazém.
O indicador coincidente calculado pelo Banco de Portugal,
que pretende ser uma estimativa mensal do PIB, referente ao mês de Abril revela
isso mesmo, indiciando que o segundo trimestre será ainda pior do que o
primeiro.
Mas o pior é que temos várias incertezas pela frente que, se
forem resolvidas no sentido favorável, não trarão nada de especial, mas se se
concretizarem no sentido desfavorável, serão muito más.
Se o Reino Unido votar para ficar na UE, a vitória será por
uma unha negra e o tema Brexit permanecerá na agenda, gerando fortes incertezas
durante anos. Se os britânicos votarem pela saída, teremos também incerteza
sobre quanto tempo durarão as negociações e como será a relação futura com o
resto da Europa.
Se as eleições espanholas produzirem um governo, isso será
uma banalidade, porque é exactamente para isso que elas servem mas, se não o
produzirem, agravarão a incerteza, porque ficará mais difícil imaginar como o
problema se resolverá.
Se a questão dos refugiados não produzir muitos problemas
este Verão, isso será bom, mas apenas pela ausência de problemas e não
constituirá nenhum estímulo económico à UE. Se daí resultarem conflitos entre
os Estados europeus, isso será muito mau para a solidariedade europeia,
sobretudo se o Reino Unido também quiser sair deste espaço.
Em Portugal, se a coligação de esquerda conseguir aprovar o
orçamento de 2017, isso será outra banalidade, porque é suposto um governo
maioritário conseguir aprovar o seu próprio orçamento. Deve-se acrescentar que
o mau desempenho da economia em 2016 vai obrigar rapidamente a accionar o plano
B para este ano e agravar a austeridade para o próximo ano.
Se o PS não conseguir construir algo que consiga o acordo
quer dos parceiros de coligação, quer da Comissão Europeia e agências de
rating, é muito provável que o executivo sucumba e seja necessário convocar
eleições legislativas antecipadas.
Isso implicará um período longuíssimo de incerteza (quando é
que os partidos chegam a acordo para mudar os nossos absurdos prazos
eleitorais?) até se conhecerem os novos resultados eleitorais e mesmo depois
disto, já que as sondagens não indicam nenhuma coligação plausível e
maioritária, correndo Portugal o perigo de imitar o impasse espanhol.
[Publicado no jornal “i”]
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