As negociações de
saída do Reino Unido deverão ser muito demoradas e a incerteza sobre o seu
resultado deverá afectar o crescimento europeu
Estamos a pouco menos de um mês do referendo que terá lugar,
a 23 de Junho no Reino Unido, para decidir se este país fica ou sai da UE. As
últimas sondagens agregadas, que consideram todas as sondagens realizadas,
estão a dar um empate técnico, com 46% a votar pela permanência de 40% pela
saída. A diferença está dentro do intervalo de erro das sondagens, ou seja,
qualquer resultado ainda é possível, podendo o resultado final depender de um
evento mínimo nas próximas semanas.
Existe uma correlação notável entre a idade dos eleitores e
a sua posição no referendo. Aos 18 anos, apenas 23% pretendem a saída, valor
que vai subindo até os 50% aos 43 anos, chegando a dois terços aos 68 anos. No
entanto, dado que os mais jovens têm taxas mais elevadas de abstenção, poderão
não conseguir vencer o referendo.
Se a permanência na UE vencer por uma margem mínima que é,
neste momento, o cenário mais favorável que os europtimistas podem esperar,
isso pode ser encarado como uma derrota a prazo. O que é irónico é que um
cenário desses assustaria os parceiros europeus e poderia conduzir a uma série
de concessões, que poderiam acelerar uma partida futura. Sobretudo, porque o
que se passa na UE é uma deterioração crescente, com focos de tensão, desde o
euro aos refugiados, que estão a colocar em causa solidariedades passadas.
Se os britânicos votarem pela saída, isso levará a
negociações muito difíceis sobre a relação futura com a UE. Julgo que os
analistas têm cometido o erro de colocar em cima da mesa as situações da Suíça,
Noruega e outros, porque me parece evidente que a posição singularíssima do
Reino Unido terá que conduzir à definição de um estatuto também ele singular.
Relembremos, entre tantos outros aspectos, que este país é um dos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a quinta maior economia do mundo e
a segunda maior economia europeia, tem o maior centro financeiro da Europa e é
a maior potência universitária europeia.
Os negociadores da UE terão uma tarefa dificílima nas mãos.
Por um lado, parece-me que, irracionalmente, haverá a tentação de ter uma
atitude punitiva sobre os britânicos, por terem tido o descaramento de fazerem
a crítica mais dura possível às instituições europeias, que consiste nesta
vontade de sair. Por outro lado, também não quererão facilitar a tentação que
possa existir noutras paragens para seguir o Reino Unido, o que aconteceria se
as condições oferecidas a este fossem demasiado benévolas. Finalmente, não
podem ignorar a dimensão e importância deste país.
Não tenho grande esperança que isso aconteça, mas a saída
dos britânicos deveria levar a UE a perceber que o erro capital da construção
europeia tem sido a obrigação de todos os países ficarem forçados a adoptar
(quase) todas as normas comunitárias. O erro mais grave consistiu exactamente
na criação do euro, que considero que a história virá a definir como a causa
principal da desagregação da UE. Era mil vezes preferível que a UE se tivesse
construído “à la carte”, em que os países só adoptavam as políticas com que
voluntariamente concordassem.
Se isso não foi feito
no passado, poderia ser adoptado de agora em diante, sendo este princípio usado
já na negociação com o Reino Unido.
Infelizmente, parece-me que o mais provável é que sejam
acordadas condições que são prejudiciais a ambas as partes, essencialmente por
culpa dos negociadores comunitários, já que os britânicos são justamente
famosos pelo seu bom senso.
[Publicado no jornal “i”]
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