A sucessiva deterioração das perspectivas para o PIB e
preços fizeram – finalmente – Draghi anunciar medidas não convencionais e, para
além disso e até mais importante, a defender estímulos orçamentais, para além
do gastíssimo pedido de reformas estruturais.
Como é evidente, é a Alemanha que está na posição económica
ideal para gerar despesa adicional, quer pela sua situação de contas públicas
(saldo estrutural positivo e dívida pública em clara queda), quer pela sua
dimensão.
Tal como o presidente do BCE referiu, o presidente Juncker
está a planear lançar um pacote de investimento público e privado, no montante
de 300 mil milhões de euros, o que representa cerca de 3% do PIB da zona do
euro. Parece que a Alemanha e a França estão a pensar que este estímulo seja
suficiente para responder aos pedidos de Draghi, o que não é o caso, já que o
líder do BCE já tinha implícita esta medida.
Uma investigação recente da revista Der Spiegel revelou que Angela Merkel encomendou 600 estudos de
opinião secretos, entre 2009 e 2013. Aquela revista alemã comparou decisões
chaves com os resultados destes estudos, entretanto tornados públicos por
pressão dos Verdes, e concluiu que, não sendo escrava da opinião revelada, usa
esta informação para nunca se afastar muito da posição dominante do eleitorado.
Ou seja, muita da teimosia e dureza de Merkel não será verdadeiramente dela,
mas do próprio eleitorado alemão.
Dito isto, é evidente que Merkel poderia esforçar-se por
mudar a opinião dos alemães, como Kohl, o seu mentor, se empenhou em vender a
ideia do euro perante um eleitorado que detestava tal coisa. A actual chanceler
alemã também poderia tentar convencer os alemães de que, para afastar o risco de
uma muito perigosa deflação, faria sentido um programa de investimento público
de elevada qualidade. Ou uma generosa subida dos salários alemães. Para já,
isto não parece provável.
Veremos como os outros líderes europeus aproveitarão a
pressão do BCE para algum estímulo orçamental e como Merkel resistirá a isso. Hollande
poderia ser o campeão do outro lado, mas tem tido uma liderança muito fraca.
A chanceler alemã poderá escolher arrastar os pés, até
porque a actuação do BCE tem tido um impacto significativo de depreciação do
euro, que pode ajudar quer o crescimento económico, quer ajudar a afastar o
risco de deflação. A própria melhoria esperada dos EUA, levando à valorização
do dólar, pode acentuar esta mesma depreciação, ajudando de forma apreciável a
economia da zona do euro.
[Publicado
no Jornal de Negócios]
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