Nesta crise, o CDS
revelou possuir uma reserva moral muito superior aos outros partidos, que o
valoriza
Ainda hoje não é claro o que se passou nos bastidores
durante a semana passada mas, pelo que se conhece, parece evidente que o
comportamento de Paulo Portas foi o mais irresponsável. Sendo uma pessoa fria e
calculista (embora erre muito nos cálculos), a interpretação que parece mais
razoável é que o líder do CDS quis sair do governo, em cujos resultados tinha
uma baixíssima confiança (com inteira razão), lançando as culpas da sua saída
sobre o primeiro-ministro, por uma má e não negociada escolha da nova ministra
das Finanças. Concordo com a avaliação que Paulo Portas faz desta escolha, que
descrevi aqui na semana passada como não sendo o “cúmulo da prudência”.
No entanto, a jogada, quase infantil, que tentou, saiu-lhe
pela culatra. Portas é daquelas pessoas que se considera tão inteligente e
esperto, que julga que os outros não passam de um bando de estúpidos e idiotas,
que engoliriam o seu truquezeco.
Mas recebeu dois valentes baldes de água fria. Em primeiro,
dos mercados financeiros, que ficaram aterrorizados com a forma como Portas
saiu do governo e, num primeiro momento, praticamente desfizeram todo o
trabalho e esforço dos últimos dois anos que o governo e os portugueses fizeram
e sofreram. Como é que Paulo Portas não foi capaz de antecipar o brutal cartão
vermelho com que os mercados assinalaram a sua “esperteza”?
O segundo balde de água fria veio do próprio CDS, que se
mostrou –generalizadamente – indignado com o gesto do seu líder. Filipe
Anacoreta Correia foi dos mais contundentes críticos desta decisão, que
classificou como “irreflectida, incoerente e totalmente irresponsável”.
Paulo Portas, um dos políticos mais incoerentes e
cata-ventos da actualidade, teve que engolir o caracter “irrevogável” da sua
decisão de sair do governo, como há pouquíssimo tempo tinha ultrapassado a
linha que dizia inultrapassável, no caso da “TSU dos reformados”.
É certo que Portas recebeu uma significativa compensação
pela sua permanência no poder, mas se este resultado fosse o almejado, desde a
primeira hora, ele não teria usado a palavra “irrevogável” na sua carta de
demissão. Aliás, a quantidade e importância dos pelouros que recebeu parece
indicar a falta de confiança do primeiro-ministro na capacidade do seu próprio
governo. Se é verdade que estes pelouros são dos mais importantes, também é
verdade que são aqueles onde a probabilidade de fracasso é maior. Dá ideia que
Passos Coelho ofereceu ao seu parceiro de coligação um presente
envenenadíssimo.
O verdadeiro tema deste artigo é a reserva moral de que o
CDS mostrou dispor, a capacidade de reprovar – publicamente – a falta de ética
do seu líder.
O PSD também tem mostrado uma elevada capacidade de criticar
o líder em exercício, embora a motivação destas críticas raras vezes esteja
relacionada com a preocupação de manter elevados padrões morais. A maioria dos
ataques ao líder parece provir de facções menos consideradas nos cadernos
eleitorais.
Ao contrário do CDS e do PSD, dentro do PS há um baixo nível
de dissidência pública, mesmo quando alguns dirigentes demonstram sinais
evidentes de falta de ética. Será que isto se pode explicar pela maior
prevalência da maçonaria dentro do PS?
Infelizmente, ainda que a maçonaria defenda – teoricamente –
elevados princípios éticos, parece que, na prática, perante comportamentos
eticamente reprováveis, os maçons consideram mais importante defender os
“irmãos” do que a ética. É curiosíssimo como a maçonaria repete os piores
padrões da igreja católica, que tanto critica, ao colocar a defesa dos
interesses dos “seus” acima dos princípios superiores que – alegadamente – a
norteiam. Onde é que esteve a reserva moral do PS durante o consulado de
Sócrates (2005-2011), um dos primeiros-ministros mais desprovidos de ética (já
nem falo na competência…) da 3ª República?
[Publicado no jornal i]
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