Em Portugal, a generalidade dos partidos políticos pensa que
um programa de governo é um rol das compras, com isto, mais aquilo, mais
aqueloutro. Não percebem que um governo tem que ter um plano estratégico, que
enquadre e oriente a acção executiva.
António José Seguro propôs, em Paris, no Fórum dos
Progressistas Europeus (partidos socialistas de países do sul da Europa), que “a
UE estabeleça como objectivo para o ano 2020 que nenhum país possa ter uma taxa
de desemprego superior à média europeia”. Não vou comentar este disparate,
porque já o fiz noutro local.
Para além disso, propôs também que a partir de 2021, exista
uma “mutualização europeia do pagamento dos subsídios de desemprego” sempre que
a taxa ultrapassar a média europeia.
Esta segunda ideia é, em si mesma, interessante, mas é
necessário enquadrá-la num plano mais vasto, para se perceber a sua validade e
a necessidade de outras que a complementem.
Em princípio, esta medida enquadra-se no objectivo muito
mais amplo de construir uma solução estrutural para a crise do euro. Uma parte
essencial desta solução é a constituição de um verdadeiro orçamento
comunitário, de que aquela proposta faria parte, mas apenas como um dos
elementos de menor significado.
Ou seja, impõe saber-se qual é, na sua totalidade, a
proposta do PS para uma resolução estrutural da crise do euro, para que esta
possa ser avaliada, quer em termos da sua exequibilidade política, quer em
termos da sua eficácia económica.
Como toda a gente já percebeu, não existem condições
políticas – absolutamente nenhumas – para que esta proposta venha algum dia a
ser aprovada. Ela pressupõe a transformação do euro (ou da própria UE) numa
“união de transferências”, ideia a que aqueles que seriam os principais
contribuintes líquidos desse novo orçamento, em particular a Alemanha, se opõem
frontalmente.
Esta medida avançada pelo PS tem, assim, não só o grave
inconveniente de não passar de um contributo minúsculo e fantasioso, como o de
se pretender que apenas se aplique a partir de 2021. Meus caros amigos, se nada
de estruturalmente decisivo for aplicado até então, a probabilidade de nessa
data já não existir euro é elevadíssima.
Estamos no domínio da pura fantasia política, com o óbvio
objectivo de tentar enganar o eleitorado português. Ninguém percebe a urgência
do PS em voltar para o poder, ou pelo menos, não se descortinam boas razões
para isso. No poder, o partido seria totalmente incapaz de uma política
verdadeiramente alternativa à actual, como vem sendo amplamente demonstrado
pela total vacuidade das soluções “propostas”. A não ser que o empenho do PS em
voltar ao poder esteja mais relacionado com os processos judiciais muito
perigosos, como os que parecem vir a decorrer do relatório das PPP, em boa hora
enviado à PGR…
PS. Como leitura complementar, sugiro o meu artigo de ontem
no jornal i.
[Publicado no Jornal de Negócios]
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