Hoje os mercados estão de novo aflitos, mas não é sobre que gostaria de escrever. Nogueira Leite chama a atenção para algo de muito importante:
No fim do Verão o senhor Trichet sai da presidência do BCE. Existem hoje apenas dois candidatos credíveis para o seu lugar, por sinal, ambos meus ex colegas do Conselho Económico e Financeiro da UE: o Professore Mario Draghi e Doktor Axel Weber. Ontém, numa verdadeira disputa entre um bully e um bully wannabe ambos vieram dizer que se mandassem (isto é, quando mandarem) os PIGS deixarão de poder financiar-se recorrendo à colocação de títulos de dívida junto do BCE.
Para Portugal (e não só) tal cenário a curto prazo significa apenas o fim abrupto do financiamento externo à República e ao sistema financeiro. Num país que se endivida (ainda) a 2 milhões de euros por hora, a perspectiva é catastrófica mesmo com um acréscimo significativo do rigor (dureza) das medidas sobre o Estado e sobre a economia.
http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/343222.html
Considero que Nogueira Leite chama a atenção para um dos cenários possíveis, mas não o único. Imaginemos que Axel Weber chega a presidente do BCE e tenta acabar com as compras de obrigações de dívida soberana. A tentativa de tomar essa decisão deverá levar a um vendaval financeiro tão grande (subidas drásticas de spreads), que muitas saídas possíveis se poderão colocar (nem todas mutuamente exclusivas): a) Weber forçado a recuar provoca um sobressalto na Alemanha, alimentando uma campanha inorgânica para sair do euro; b) Weber sai e bate com a porta, fazendo campanha para a Alemanha sair do euro; c) BCE não consegue manter promessa de esterilização das compras de dívida, devido ao seu carácter maciço; d) outras ainda.
Mas estes cenários alternativos são tão ou mais negativos que o cenário-base.
PS. Não consegui confirmar a data do fim do mandato de Trichet, com algumas fontes a indicarem o fim deste ano.
1 comentário:
Há aqui uma grande confusão - que começa a ser habitual não apenas nos campeões do sound bite:
confunde-se a aquisição (extraordinária) de dívida pública pelo BCE, adoptada após 9 de Maio, para a estabilização dos mercados (com um total adquirido de 35 mil milhões de euros, irrelevante atendendo ao volume diário de transacções e ao próprio balanço do BCE), com a aceitação de dívida como colateral nas operações de refinanciamento
Ou seja, é como se os dois “candidatos” aceitassem que o BCE eliminasse aquela que foi a única regra estável desde o início, que é a aceitação de dívida pública como colateral das operações de refinanciamento
No limite, nada impede que os governos coloquem a dívida nos bancos nacionais e estes a utilizem como colateral no BCE, nem que seja nas operações de emergência (à taxa agravada, neste momento de 1.75%, e em montantes ilimitados), assim passando o BCE a financiar indirectamente os governos
A divergência pública dentro do BCE é “para inglês ver”, com a agenda de nomeações em 2011. O BCE sempre foi pragmático e vai continuar a sê-lo, para defender o projecto do euro
Rui C
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