Considero que temos três problemas na educação: quantidade, qualidade e eficiência.
O problema da quantidade prende-se com a elevadíssima taxa de abandono escolar precoce. Temos menos alunos porque eles saem demasiado cedo do ensino. Isto tem repercussões gravíssimas ao nível de toda a vida. Que tipo de formação se pode dar a um trabalhador que saiu demasiado cedo da escola? Isto coloca entraves gravíssimos ao crescimento da nossa produtividade, porque há uma massa enorme de trabalhadores sem qualificações ou semi-qualificados. Segundo um estudo recente da CGTP o peso destes trabalhadores no total mantêm-se praticamente inalterado nos últimos 20 anos, em cerca de um terço do total.
Com a aposta da China na educação, Portugal corre o sério risco de passar a ter trabalhadores menos qualificados do que a China incapazes de competir com os salários chineses. A nossa falta de aposta na educação corre o sério risco de se transformar num perigosa fábrica de desemprego.
Não me venham dizer que o abandono escolar existe porque isto e aquilo. Ter explicações sobre porque é que temos um problema não resolve nem desculpa a existência do problema. Quando muito, essas explicações devem servir para construir as soluções e nunca para baixar os braços.
Quanto ao problema da qualidade, ele revela-se nos péssimos resultados obtidos nos testes PISA, em que Portugal obtém resultados muito piores do que seria de esperar do nosso nível de desenvolvimento. Aqui de novo, podem arranjar as melhores explicações para isto, mas certamente que uma delas é que o ministério da Educação não tem dado a devida atenção a este grave problema.
Se os nossos alunos têm piores resultados do que os chineses, que futuro é que isto nos reserva?
O problema da eficiência está espelhado no facto de gastarmos muito mais em educação (nomeadamente quase o dobro de Espanha), apesar de termos menos alunos e obtermos resultados muito fracos. Temos um sério problema orçamental na educação e a discussão recente sobre a avaliação dos professores não passa de uma hipocrisia. Era preferível que o ministério da Educação assumisse que o objectivo é quase exclusivamente orçamental e assumisse a necessidade de fixar limites de vagas nos escalões mais elevados. Estou plenamente de acordo que existam estes limites, tal como existem no ensino superior.
Para terminar gostaria de salientar que não considero que o maior problema na educação sejam os professores. Considero que o maior problema reside, em primeiro lugar, no ministério da Educação (deve haver um vírus na 5 de Outubro que enlouquece quem lá entra…) e, em segundo lugar, nos pais. Os pais são os principais responsáveis pelo abandono escolar precoce e pela indisciplina dos alunos.
Mas também devo dizer que os professores não se podem infantilizar e dizer que não têm nenhuma responsabilidade no actual estado de coisas. Se são o maior grupo profissional na AP, com uma enorme capacidade negocial (como se vê no estatuto remuneratório que conseguiram obter), porque é que não usa(ra)m esse poder para mudar o sistema?
1 comentário:
Agradeço que nestes últimos três últimos mails se tenha esforçado por corrigido o bias anti-professores que o primeiro mail denota. Para evitar que possa pensar estar aqui apenas a defender interesses corporativos - o que em si nada tem de ilegítimo aliás - queria dizer que não sou professor. Fui-o em tempos todavia e tenho ainda na memória muito viva a impressão de que ser professor em Portugal é em primeiro lugar ser agente da ordem, para só depois de acalmados os ânimos estar em condições de ensinar alguma coisa. Repito, trata-se certamente de uma das profissões mais injustiçadas em Portugal. Mas como economista que é, acho que há também alguma falta de rigor nas análises que faz da função pública: o que se esperaria de um economista é que em vez de falar em termos gerais da função pública, como habitualmente se faz, pudesse fazer uma análise mais rigorosa da verdadeira balcanização dos serviços públicos e para-públicos e ainda da colonização pelo Estado de algumas empresas só na aparência privadas como a PT. É que falar da função pública em geral como se se tratasse de uma massa homogénea é mais uma vez contribuir para encontrar um bode expiatório fácil e confortável para a demagogia reinante. E deixe-me dizer-lhe, para voltar ao exemplo da mulher a dias suíça, há profissões em Portugal que ganham bem, bem mais. Para lhe dar um exemplo, que tal fazer um balanço de quanto ganha um gestor público, mordomias incluídas? Não contribua por favor para mais uma cruzada contra os funcionários públicos que têm com certeza muitos defeitos mas dificilmente podem ser responsabilizados pelos disparates e o crescente buraco orçamental e financeiro. É preciso não esquecer que as responsabilidades são graduadas e proporcionais e por esta ordem de ideias os principais responsáveis - para o melhor e para o pior - são os dirigentes. Sei que em Portugal a culpa é sempre do contínuo (categoria que já deixou de existir aliás)...
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