A subida da inflação americana já fez subir as taxas de
juro neste país, o que conduziu a subidas também na Alemanha e em Portugal,
embora os riscos inflacionistas na zona euro sejam mínimos.
A recuperação natural da economia americana, com o fim dos
confinamentos, que nunca foram muito severos, e o avanço nas vacinas; a forte
ajuda monetária; e o excepcional estímulo orçamental geraram receios de tensões
inflacionistas. Na verdade, a taxa de inflação nos EUA, passou de 1,4% em
Dezembro para 2,6% em Março e “saltou” para 4,2% em Abril, parecendo dar razão
aos receios inflacionistas, embora sejam explicados por fenómenos pontuais.
Na zona euro, a inflação continua baixa e uma subida até
seria uma boa notícia, porque: implicaria o fim do fracasso do BCE que a
colocar “próximo mais abaixo de 2%”; permitiria acabar com as taxas de juro
negativas, uma situação excepcional e de muito difícil gestão, para todos;
diminuir a oposição às políticas do BCE por parte dos países mais aforradores.
Regressando aos EUA, é possível que a inflação
norte-americana permaneça algum tempo acima da referência dos 2%? Sim. Será
difícil baixá-la? Não, a Reserva Federal tem amplos instrumentos para o
conseguir. Corremos o risco de, para além da subida da inflação, termos também
uma subida das expectativas de inflação? De maneira nenhuma e, para sublinhar
isso, revisitemos, muito esquematicamente, a chamada Grande Inflação, desde o
final dos anos 1960 até ao início dos anos 1980.
Durante este período, julgava-se que era possível “comprar”
uma redução da taxa de desemprego tolerando alguma inflação, que, no início de
1969, subiu acima dos 5%. Em Agosto de 1971, teve lugar o “choque Nixon”, em
que o presidente dos EUA decretou o fim da convertibilidade do dólar em ouro,
que poderia ser encarado como a destruição de uma âncora anti-inflação. Para
além disso, introduziu controlos de preços e salários, numa tentativa fútil de
dominar a inflação, que só criou escassez de bens, em particular de energia.
No Outono de 1973, deu-se o primeiro choque petrolífero, que
agravou claramente a Grande Inflação, e em 1979 teria lugar o segundo destes
choques. Finalmente, em 1981, Volcker, presidente da Reserva Federal, subiu
fortemente as taxas de juro, para 20% (o “choque Volcker”), que não só reduziu
a inflação, como, – o mais importante –
também destruiu as expectativas inflacionistas, que estavam já a alimentar a
subida dos preços, num ciclo vicioso imparável. É certo que este choque fez
subir o desemprego, mas foi o preço a pagar para conseguir estancar a espiral
inflacionista.
O que sucedeu, entretanto, à taxa de inflação? Em 1974,
chegou aos 12%, em 1980, atingiu o máximo de 15%, e em 1983 já estava
completamente domada, abaixo dos 3%. Como podem verificar, hoje, estamos
longíssimo dos valores dos anos 70 e até abaixo dos verificados no final dos
anos 1960.
Mas a diferença decisiva reside no facto de os erros
cometidos pelos bancos centrais, sobretudo a seguir aos choques petrolíferos,
não poderem ser repetidos, porque se aprendeu o papel fundamental das
expectativas na evolução do índice geral de preços.
[Publicado no Jornal Económico]