A direita portuguesa
está finalmente a acordar, com o surgimento de novos partidos, e com o PSD em
vias de mudar de liderança e de passar a fazer oposição, que faz uma falta
brutal perante um governo tão pernicioso.
Por toda a Europa se assiste a uma recomposição do espectro
partidário, com recuo dos partidos que dominaram a cena política do pós-guerra
e ascensão de novos partidos. Os partidos velhos, associados a demasiados
fracassos, não se souberam renovar estão a ser substituídos ou encolhidos.
Portugal ficou (demasiado) tempo longe disso, não porque os
nossos partidos tenham percebido a mensagem e se tenham renovado – longe disso
– , nem, como alguns acusam, porque o nosso sistema seja demasiado fechado ao
surgimento de novos partidos, como o BE e, mais recentemente, o PAN, o
ilustram.
Parece que as coisas estão, finalmente, a mudar, sobretudo
na área da direita. Dois novos partidos já foram formalizados, a Aliança e a
Iniciativa Liberal, e é possível que outros ainda surjam a tempo das legislativas
do Outono.
A semana passada foi singular em dois aspectos: a primeira
reunião do Movimento Europa e Liberdade (MEL) e o anúncio de Luís Montenegro de
querer candidatar-se à liderança do PSD, a que se poderão somar outras.
A direita estava com problemas inegáveis. O CDS tem-se
apresentado numa confusão ideológica, mais casuística do que sistemática,
fazendo oposição nos dias pares e adormecendo nos dias ímpares. Já o PSD, sob a
batuta de Rui Rio, embarcou num projecto totalmente lírico, de se perfilhar
para secundar o PS num novo governo, abstendo-se, por isso, de fazer qualquer
tipo de oposição digna desse nome. Os socialistas agradecem, encarecidamente, a
estratégia de capacho dos sociais-democratas, mas jamais recompensarão essa
submissão, dada a proverbial ingratidão na política.
O MEL é mais um elemento da sociedade civil, que se saúda, e
ao qual desejo uma vida longa, porque o principal defeito deste tipo de eventos
é a sua falta de continuidade, bastando referir a promessa que foi o
Compromisso Portugal, que se desfez em muito pouco tempo. A primeira convenção
do MEL teve uma agenda ambiciosa, mas talvez demasiado generalista, não sendo
este um grande defeito num primeiro encontro. Seria muito útil que, pelo menos,
as principais intervenções fossem passadas a escrito e disponibilizadas online,
para memória futura e para servir de base a trabalhos futuros.
O líder da Aliança, Pedro Santana Lopes, apresentou aí um
esquisso do seu programa, que teve a (enorme) vantagem de fixar como meta
principal do país o crescimento económico robusto, que é, de longe, o mais
grave problema económico – e, em parte importante também político – do país.
O líder da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, teve
uma intervenção (gravada, por estar, por motivos profissionais, ausente do
país) mais circunscrita, ao tema da liberdade, esperando-se novas oportunidades
para uma mensagem mais abrangente e de fundo, pese embora o boicote
generalizado que está a sofrer da comunicação social.
Esperemos que a direita se revitalize, porque é essencial desfazer
a actual maioria de esquerda, que está a fazer muito mal ao país, que
desperdiçou condições excepcionalmente favoráveis (juros baixos, recuperação
europeia, etc.) e se recusa a reconhecer a divergência da UE das últimas duas
décadas, impedindo qualquer esforço para a reverter.
[Publicado na CapitalMagazine]
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