Portugal tem sido
muito mal governado, sobretudo nas duas últimas décadas, em que muitas das
medidas tomadas foram contra o interesse nacional. Abro uma excepção para o
período em que fomos governados pela “troika”, que não foi tão contrário aos
nossos interesses de longo prazo.
Para não entrar na discussão inquinada das claques
partidárias, vou, em geral, evitar falar de exemplos muito concretos, mas
tipificar alguns dos tipos de decisões contra o interesse nacional, deixando ao
leitor o desafio de identificar situações concretas, o que, nalguns casos, será
muito fácil de fazer.
Não se alegue que só estou a dar exemplos de patologias
raríssimas, porque tudo isto parece ser o quotidiano da governação das últimas
décadas, ou não estaríamos na miserável situação em que estamos, a ser
ultrapassados pela generalidade dos países de Leste, que entraram na UE quase
duas décadas depois de nós.
Aliás, usando uma definição recente de “boys”, por Pacheco
Pereira: “Observam-se
os curricula e todos têm um traço
comum: quase nenhuma experiência profissional genuína, no Estado ou em
empresas, percursos académicos medíocres ou inacabados, na maioria das vezes em
escolas privadas cujo grau de exigência é pequeno, contrastando com uma
sucessão de cargos políticos.” Não será exagero presumir que os “boys” (e
“girls”, para ser muito inclusivo) são pessoas pouco inteligentes, muito
ignorantes, sem experiência e, acrescento eu, com padrões éticos muito baixos. Podemos
ficar verdadeiramente surpreendidos por esta gente se especializar em tomar más
decisões?
É verdade que é urgente expulsar os “boys” das
administrações públicas, mas parece que é ainda mais importante expulsá-los dos
partidos políticos.
Passemos então a elencar os tipos de más decisões (sem
grandes preocupações de estrutura) mais frequentes dos últimos governos
portugueses.
1. Curto prazo versus
longo prazo. Um dos casos mais frequentes é a escolha de benefícios de
curto prazo, com prejuízo dos resultados a longo prazo. Cabem aqui todas as
ocasiões em que se escolheu fazer despesa excessiva no curto prazo, aumentando
a dívida pública, que nos colocou à beira da bancarrota, pelo nível excessivo
de dívida, em particular externa, que levou os investidores externos a
cortarem-nos a financiamento e nos forçou a pedir ajuda à “troika”. Repito o
que já devia ser óbvio: foram os erros dos nossos governos que nos colocaram na
necessidade de austeridade, não foi a “troika”, que, por pura maldade, inventou
esta necessidade.
Mas os exemplos deste tipo não se esgotam aqui: adjudicar
uma obra pública (ou equipamento, ou etc.) por quem oferece preço mais baixo,
mas sem garantias de qualidade, o que no longo prazo sai mais caro.
2. Ignorância. Quando
o ministro, os secretários de Estado, os assessores e o director-geral são um
bando de “boys” ignorantes, que nem sequer quer ouvir quem sabe, não se pode
dizer que as suas opções o são por escolha ideológica, mas por pura ignorância.
Aliás, o efeito
Dunning-Kruger explica muito bem isto: “fenómeno pelo qual indivíduos que
possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que outros
mais bem preparados, fazendo com que tomem decisões erradas e cheguem a
resultados indevidos”. É a sua incompetência que restringe a sua capacidade de
reconhecer os próprios erros.
3. Erro consciente,
por cobardia. Quando um ministro está totalmente consciente de que uma
medida que vai tomar está completamente errada, que vai produzir como
resultados o exacto oposto do anunciado, mas o faz por cobardia, por temer
afrontar a opinião pública (e sobretudo a opinião publicada) não estamos
perante um caso de ideologia, mas de mera falta de coragem. Um ministro, que
mereça sê-lo, tem a obrigação (moral quanto mais não seja) de adoptar uma
atitude de pedagogia serena, de explicar porque a medida correcta é o oposto do
que é “pedido”.
(continua)
[Publicado na CapitalMagazine]