Os problemas na
Catalunha podem afectar as exportações portuguesas, mas também podem constituir
uma oportunidade de angariar investimento estrangeiro.
O movimento secessionista na Catalunha tem estado em choque
frontal com Madrid e é ainda incerto o resultado final. No entanto, apesar de
muita irracionalidade que se tem passado e deverá continuar a acontecer (em
“homenagem” ao novo prémio da economia, Richard Thaler), há vários sinais que
apontam para que a independência não se concretize.
O sinal mais forte, de vacina, foi dado pelas maiores
empresas catalãs, que mudaram as suas sedes para fora da região. Para estas
entidades, o custo de transferir o centro é relativamente pequeno, comparado
com o benefício de não sofrer com a permanência. Isto é particularmente verdade
para o caso dos bancos, que eliminam assim o risco de deixarem de ter acesso
aos fundos do BCE. Se a probabilidade de independência subisse, este fenómeno
alastrar-se-ia às médias empresas, devendo crescer de forma avassaladora ao
ponto de resfriar um ímpeto de maior autonomia. Estaríamos a falar da perda
potencial de milhares de empregos e de parte muito significativa da receita
fiscal do novo Estado.
Mas há travões mais importantes. Quando os catalães (e
restantes residentes da região) se apercebessem que estariam a caminho de sair
da UE e que enfrentariam a forte oposição de Espanha para voltar a entrar,
passariam a tomar a consciência de que iriam perder a liberdade de circulação
de bens, serviços, trabalhadores e capitais com o resto da UE, um grave
retrocesso, com profundas implicações económicas. Não é difícil imaginar Madrid
a impor controlos draconianos na fronteira com a Catalunha, dificultando ao
máximo o trânsito de bens e pessoas. Para os portugueses que já sentiram na
pele a forma como as autoridades espanholas fazem impor a sua vontade, muitas
vezes contornando as directivas comunitárias, isto não deve ser difícil de
antecipar.
No entanto, o mais importante de todos seria a perspectiva
de saída unilateral do euro, de um Estado que nem sequer tem banco central, com
o potencial de produzir o caos no sistema de pagamentos, uma depressão profunda
e forte desvalorização, que reduziria fortemente o poder de compra daqueles que
preservassem os seus empregos. A forte subida das taxas de juro que a
acompanharia deveria produzir uma forte queda no valor dos activos, em
particular o imobiliário, com fortes prejuízos para todos os endividados, cuja
habitação poderia passar a valer menos do que o empréstimo com que a compraram.
Em resumo, o fortalecimento do impulso independentista
deverá gerar anti-corpos mais do que suficientes para o fazer recuar. Isto
dito, parece que os extremos a que chegaram ambas as partes deverão conduzir a
uma situação de guerrilha institucional que, sem levar à ruptura, deverá
corroer a confiança do investimento, sobretudo na Catalunha, mas também em
Espanha. A probabilidade da catástrofe poderá ser pequena, mas os custos que lhe
estariam associados seriam de tal maneira elevados, que o prémio de risco
deverá ser relevante.
Parece que há duas vias em que isso irá afectar Portugal. Em
primeiro lugar, é provável um arrefecimento do crescimento económico no nosso
vizinho e principal destino das nossas exportações (quase o dobro do segundo, a
Alemanha) e, assim, do nosso próprio desempenho económico. Em segundo lugar,
muitos investidores, sobretudo novos investidores, deverão evitar Espanha e
Portugal poderá surgir como alternativa interessante. No entanto, para esta
oportunidade se materializar, será necessário que o governo português assuma o
objectivo de atrair investimento estrangeiro, o que não tem sido o caso até
agora.
[Publicado no jornal online ECO]
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