O crescimento
económico do 1º semestre deverá ser muito favorável, mas para que tenha
continuidade é necessário que arregacemos as mangas, em particular o governo.
Só na 4ª feira saberemos os detalhes, mas tudo indica que os
dados económicos do 1º trimestre deste ano sejam muito bons: uma forte
aceleração do crescimento, de 2,0% para 2,8%; a estrutura deste crescimento é
excelente, sobretudo baseado no investimento e nas exportações; houve uma
melhoria do saldo externo e redução da dívida externa, ao contrário da dívida
pública; também se registou um aumento da produtividade, ao contrário de 2016.
Há quem argumente, com alguma lógica mas não com inteira
razão, que não faz muito sentido criticar o governo pelo mau desempenho da
economia no 1º trimestre de 2016 e não o felicitar pela evolução muito favorável
do 1º trimestre de 2017.
Na verdade, é inteiramente legítimo responsabilizar o
executivo pela desaceleração no início do ano transacto, porque ele se deveu a
uma forte queda do investimento, cuja razão é dupla. Por um lado, o
investimento privado caiu devido a um enorme receio da relação do governo com o
sector privado, pelas decisões de reverter contratos assinados pelo anterior
executivo e pelo discurso anti-empresas do BE e PCP. Por outro, o próprio
governo decidiu cortar drasticamente no investimento público, minimamente
consciente dos riscos orçamentais que enfrentava, escolhendo o caminho mais
fácil – e mais penalizador para a economia – para controlar o défice público.
Em relação à aceleração em 2017, ela deve-se a um conjunto
de razões, muitas das quais fora da alçada do executivo. Em primeiro lugar,
devido a um efeito base, de partir de um valor muito baixo em 2016.
Em seguida, os fundos comunitários estão a puxar pelo
investimento, mas podia ser mais significativo. Por exemplo, na agricultura 60%
do investimento é privado e 40% público (34% comunitário e 6% do orçamento
nacional). Há muitas queixas de pretextos ínfimos para atrasar ajudas, o que
parece ser resposta a indicação superior mas não se gastarem tantas
contrapartidas nacionais. No entanto, dada a alavancagem envolvida, 1 euro de
dinheiros públicos gera quase 17 euros de investimento, era claramente
preferível poupar noutras áreas do que aqui.
Para além disso, o turismo está cada vez menos sazonal, e só
assim se compreende que seja ele um dos impulsionadores do crescimento no 1º
trimestre, que deveria ser muito fraco para esta actividade. Convinha que não
fossem tomadas medidas para matar a nossa galinha dos ovos de ouro, tais como
restrições absurdas sobre o alojamento local, tais como criar guerrilhas entre
vizinhos.
Há também outras exportações de serviços (transportes
aéreos, serviços técnicos e de consultoria, etc.) que já representam tanto como
turismo e algumas estão com um crescimento extraordinário.
Por exemplo, as exportações de serviços de informática
cresceram 19% no 1º trimestre, tal como nos últimos seis anos, em que
triplicaram as exportações. Mas estão com estrangulamentos na captação de
pessoal, sendo essencial tomar medidas neste domínio, tais como certificar as
acções de requalificação feitas pelas próprias empresas, como elas têm vindo a
reivindicar, perante os ouvidos moucos das autoridades.
As perspectivas para o 2º trimestre são ainda mais
favoráveis, devido de novo a um efeito base, mas também pela continuação da boa
evolução do início do ano.
No 2º semestre é que se deverá assistir a um abrandamento da
actividade, se entretanto não forem tomadas medidas que permitam aumentar o
nosso potencial de crescimento.
[Publicado no jornal online ECO]
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