Em vez de liderar um
projecto de inovação nas novas energias, equivalente ao programa espacial do
passado, Trump prefere virar-se para o passado, fechar-se e dar o palco à
China.
O chamado Acordo de Paris, no âmbito das Nações Unidas, foi
assinado em Dezembro de 2015, em que os 196 signatários se comprometeram a
reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa, para impedir que a
temperatura não chegue a subir 2º C acima dos níveis registados antes da
industrialização.
As vantagens deste acordo é revelar (um arremedo) de
consciência internacional sobre a necessidade de fazer algo sério para
contrariar o aquecimento global. Os problemas são: as metas nacionais são
voluntárias; não existe qualquer tipo de penalização formal pelo incumprimento
das metas; segundo vários estudos, o somatório das metas nacionais é
insuficiente para cumprir a limitação da subida da temperatura do globo.
Numa declaração (mais uma vez) absurda o Presidente Trump
anunciou que os EUA se retiravam do acordo, porque este tinha sido mal
negociado e tinha prejudicado a economia americana. Isto não faz qualquer
sentido, porque os termos foram propostos de forma voluntária pelos EUA.
É lamentável que o maior poluidor da história e ainda hoje o
segundo maior poluidor do mundo se afaste da resolução de um problema no qual
tem as maiores responsabilidades. É uma pena que os EUA não escolham liderar o
caminho de investigação científica e tecnológica necessário para resolver esta
questão nas próximas décadas. Tal como já o fizeram com o programa espacial,
que beneficiou indirectamente tanto as empresas americanas, também se poderia
lançar hoje uma campanha de investigação científica para as energias do futuro.
É verdade que o mercado pode substituir o Estado em algumas
destas funções, como o ilustra o caso da Tesla no desenvolvimento de novas
baterias, mas a dimensão do desafio é tão grande que não ter o apoio generoso do
governo da maior economia do mundo será sempre limitador.
Também se tem que reconhecer a pujança da sociedade americana,
com 9 estados e 125 cidades americanas a manterem as suas metas. Para além
disso, o filantropo Michael Bloomberg também se propõe pagar os 15 milhões de
dólares que o Estado americano vai deixar de contribuir para o secretariado das
Nações Unidas (obrigado à Rita Carreira).
Os EUA gastam mais de 3% do PIB em defesa e não pode haver
dúvida que as alterações climáticas deverão criar graves problema humanitários
e estima-se que a água será uma das maiores fontes de conflitos militares no
futuro. Ou seja, justificava-se que houvesse uma parcela deste orçamento
destinado a investigação para evitar as alterações climáticas, aproveitando
também o facto de este país ser a maior potência científica e tecnológica do
mundo.
O mais irónico disto tudo, é que a China, até há pouco um
poluidor descontrolado, já se assumiu como o líder mundial nesta matéria.
Previa-se que, a manterem-se os ritmos actuais, em torno de 2030 a China
ultrapassaria os EUA em termos de PIB (embora não em termos de
desenvolvimento), mas é estranhíssimo que Trump prescinda assim, antes do
tempo, de uma liderança política natural.
[Publicado no jornal online ECO]
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