Ao contrário da
generalidade dos países europeus, Portugal tem estado estagnado nos últimos 16
anos, mas nem as elites nem o cidadão comum parecem ter interiorizado isto.
Se olharmos para o conjunto dos últimos 16 anos, verificamos
que Portugal foi um dos países que menos cresceu na UE, quando deveria ter
crescido acima da média, porque se deveria estar a aproximar do rendimento
médio europeu. Se não estamos a convergir é porque algo de muito errado se
passa no nosso país. Este problema é tão grave, estranho, raro e já dura há
tanto tempo, que é profundamente chocante que as nossas elites ainda não o
tenham interiorizado.
Crescimento acumulado do PIB, 2000-2015
[ver gráfico no link]
Fonte: AMECO
O problema começa por ser grave porque um fraco crescimento
coloca tudo em causa: o emprego, os salários, o poder de compra dos
portugueses, a sustentabilidade do Estado social, as finanças públicas, etc.
Portugal cresceu pouco mais de um décimo da média da UE, em termos acumulados,
o que dá uma ideia do abismo que nos separa dos outros.
Depois, é estranho, porque, em princípio, deveríamos estar a
convergir para a média comunitária porque partilhamos muita legislação, uma
mesma moeda e até recebemos um montante significativo de fundos comunitários
justamente para convergir.
É raro, porque só a Grécia está numa posição pior do que a
nossa e isto apenas a partir da crise do euro, desde 2010, já que
anteriormente, ao contrário de Portugal, estava a convergir para a média. O
outro caso de um país pior do que o nosso, a Itália, é diferente, porque eles
já atingiram a média europeia, pelo que a pressão para convergir para a média
já deixou de funcionar, o que não impede o problema de também ser grave para
eles.
Finalmente, esta “doença” já dura há 16 anos, pelo que é
impressionante como é que ainda não foi assumida pelas nossas elites e também
pelos portugueses em geral.
Por seu turno, esta falta de consciência das elites tem dois
grupos de consequências extremamente graves. Por um lado, porque permite a
apresentação de propostas políticas supostamente “alternativas” e, por isso
mesmo, saudáveis no debate político, quando não passam de pura fraude. Tentar
reverter normas que vigoraram durante um período em que Portugal fracassou
completamente, quer pela ausência de resultados, quer pela insustentabilidade,
que se distingue pela explosão do endividamento externo, que passou de 8% em
1995 para mais de 100% do PIB, a partir de 2009, é absurdo.
Por outro lado, isto bloqueia a aprovação de medidas
estruturais essenciais para sairmos do buraco em que nos encontramos. Se as
elites pensam que estamos apenas a viver um mau momento, por exclusiva influência
europeia, qual a motivação para adoptar medidas completamente diferentes? Se
estamos tão mal como todos os outros, porque razão haveríamos de adoptar
medidas ousadas?
Por isto tudo, parece essencial acordar as elites
portuguesas, para que não mais se possa ignorar este problema e o encaremos de
frente.
[Publicado no jornal online ECO]
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