Um dos erros
estratégicos mais chocantes das últimas décadas foi o peso absurdo dado ao
betão, em detrimento do investimento em formação genuinamente qualificante, com
grave prejuízo para os jovens.
A seguir ao 25 de Abril, havia muitas necessidades básicas a
satisfazer, como trazer água potável, esgotos e electricidade a largos
segmentos da população, bem como preencher lacunas graves nos sistemas de
transportes, sendo útil recordar que a auto-estrada Lisboa-Porto só foi
concluída em 1991.
No entanto, de então para cá, insistiu-se em prosseguir
investimentos de utilidade cada vez mais duvidosa, como construir auto-estradas
quase sem tráfego, bem como estádios de futebol e outros delírios. Assim, temos
hoje uma posição muito confortável nos principais rankings internacionais em
termos de infra-estruturas, embora em termos de qualificação da mão-de-obra
ocupemos o último lugar na Europa.
Há muito que a educação tem sido arvorada em grande desígnio
nacional, mas isso não tem passado de verbo de encher, porque os resultados
práticos continuam insuficientes para corrigir o nosso atraso, mesmo em relação
a países claramente mais pobres do que nós.
Em particular, na formação profissional, tem-se atirado
dinheiro à rua, com as “formações” das Novas Oportunidades, que em má hora este
governo pretendeu ressuscitar, ainda que rebaptizadas. O mais chocante é que
tem sido possível haver bastante dinheiro para investir, mas que se tenham
feito escolhas tão absurdas, de puro desperdício, quando temos tanta
necessidade de melhorar a qualificação dos nossos trabalhadores.
De acordo com um estudo da PricewaterhouseCoopers (http://www.pwc.co.uk/youngworkers),
se todos os 35 países da OCDE reduzissem a taxa de desemprego dos jovens para
os níveis da Alemanha, os ganhos obtidos no longo prazo poderiam ser da ordem
dos 1,1 milhões de milhões de dólares.
Neste estudo, no índice PwC de Jovens Trabalhadores,
Portugal encontra-se na 32ª de 35 posições, só à frente da Itália, Grécia e
Espanha. Estes países, tal como a Turquia, têm uma percentagem muito elevada de
jovens que não estão a estudar, nem a trabalhar, nem em estágios.
A Alemanha, com o seu sistema dual de ensino, que incorpora
o treino no ensino formal, tem muito para nos ensinar, sendo um caminho que
conduz a taxas de desemprego jovem muito mais baixas dos que as que se
verificam em Portugal, bem como fornece habilitações muito mais próximas das
que são efectivamente valorizadas pelo mercado de trabalho, conduzindo a salários
mais elevados.
A Alemanha tem também envolvido os empresários, para
introduzir este sistema dual de ensino e para se focar na inclusão social.
Na verdade, a nossa pobreza relativa não pode ser explicada
por qualquer tipo de condição “periférica” (há mais de cem anos que a Europa
deixou de ser o centro do mundo), mas sobretudo pela nossa tolerância face a
políticas públicas obviamente erradas, que esbanjam recursos que o Estado
retira aos contribuintes, desrespeitando profundamente os esforços e sacrifícios
que estes fazem.
[Publicado no jornal online ECO]
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