Quer o contexto
internacional quer o novo governo deverão resfriar a economia portuguesa
Esta semana, o Banco de Portugal divulgou as suas novas
previsões para a economia portuguesa, que foram ligeiramente revistas em baixa
(para 2016, o PIB deverá agora crescer agora 1,7% em vez de 1,9%), sobretudo
devido ao abrandamento do contexto internacional. Estas perspectivas estão
agora alinhadas com as da Comissão Europeia, mas ainda um pouco acima das do
FMI (1,5%), que está mais pessimista, não só em relação ao próximo ano, mas em
relação aos seguintes, em que prevê uma desaceleração da actividade, ao
contrário das outras duas instituições, que antecipam uma aceleração da
recuperação.
Infelizmente, penso que as estimativas do FMI são ainda
optimistas, porque assumem uma desaceleração mínima na China, de 6,8% em 2015
para 6,3% em 2016, o que parece estar longe do que se avizinha. A queda recente
do preço do petróleo, para um mínimo desde o início da crise de 2008, é um
indicador do enfraquecimento da procura global, da qual a China tem sido, de
longe, o principal motor.
Regressando a Portugal, em relação às influências internas,
os números do banco central foram calculados com base na usual hipótese técnica
de “políticas invariantes”.
Na verdade, sem tentar colocar números nos resultados,
parece que se podem inferir algumas consequências económicas resultantes do
novo enquadramento político. Em primeiro lugar, tem havido uma enorme
dificuldade em concretizar os acordos de esquerda e aquilo que aqui designei
como “prólogo orçamental” continua por concluir. Ou seja, é de admitir que as
decisões do novo governo permaneçam envoltas numa elevada incerteza até à
última hora, enquanto o próprio momento de decisão parece ser sucessivamente
protelado. Excepto nos casos em que a demora poderia permitir um debate e uma
reflexão aprofundada, como infelizmente foi o caso da decisão de eliminar as
provas do 4º quarto.
Esta incerteza deverá adiar decisões de investimento e pode
também levar os consumidores a criar poupanças de precaução.
Para além disso, as decisões já tomadas e outras que parecem
em vias de o ser, como a reversão de privatizações, a marcha atrás na reforma
do IRC e a subalternização da Concertação Social, espelham uma atitude anti-empresarial,
que só pode ter como consequência um recuo no investimento previsto, movimento
de que já há sinais evidentes, sobretudo naqueles que contactam de perto com
investidores.
Parece que o novo governo está a ignorar este tipo de
efeitos, enquanto espera que os estímulos orçamentais se traduzam numa forte
aceleração da economia, para 2,4% em 2016 e uns miraculosos 3,1% em 2017, um
valor que não é atingido há quinze anos. Estas perspectivas terão que ser em
breve revistas, quer devido à referida desaceleração internacional, quer devido
ao reconhecimento de que as metas orçamentais exigidas pela UE não permitem os
estímulos sonhados pelo PS. Para além disso, mas em relação a isso não espero
que haja já um reconhecimento deste facto, despejar dinheiros públicos pela
economia não se deverá traduzir tanto em crescimento, mas sobretudo em
importações.
Em relação ao futuro próximo, vejo duas incertezas
principais. Em primeiro lugar, qual o grau de influência que o PCP conseguirá
obter junto do governo, o que terá impactos significativos na relação com as
entidades patronais e recuo no investimento, bem como num maior descontrolo das
contas públicas.
Em segundo lugar, como é que a UE reagirá, quer à reversão
de reformas penosamente alcançadas com a troika,
quer a um menor controlo orçamental.
Teremos assim uma luta entre o PCP e a UE, por interposta
pessoa do governo socialista. Veremos quanto tempo levará até que a UE vença
este combate tão desigual.
[Publicado no jornal “i”]
Sem comentários:
Enviar um comentário