Os resultados
eleitorais foram desastrosos para o PS, que ainda está a agravar a situação com
uma eventual aliança à esquerda
Até meados de Setembro, o PS ia à frente nas sondagens, o
que permitia antecipar que teríamos um governo minoritário socialista, com
possibilidade de alguma estabilidade, devido a, pelo menos, uma não oposição da
actual coligação.
No entanto, devido à inacreditável sucessão de desastres
protagonizados por António Costa, o PS conseguiu a proeza extraordinária de
conseguir perder este sufrágio, depois de quatro anos de dura e nem sempre
justa austeridade. Costa cometeu o erro de palmatória de virar à esquerda, quando
há décadas que Mário Soares já tinha percebido que as eleições se ganham ao
centro.
Na área do BE deu-se um fenómeno muito curioso, que estará
simultaneamente na base do seu sucesso e do flagrante insucesso das suas
dissidências. Já Joschka Fischer tinha dito que a sua mais difícil luta
política, que durou vinte anos, foi conseguir transformar os Verdes alemães num
partido de poder.
Em Portugal, há alguns anos que se gerou um forte debate
interno dentro do BE, entre aqueles que o pretendiam manter como partido de
protesto e aqueles que o queriam transformar em partido de poder. Este segundo
grupo, incapaz de convencer os seus correligionários, acabou por sair do Bloco,
mas não foi capaz de se manter unido, tendo-se dispersado em várias
agremiações.
Entretanto, o BE, sentindo-se duplamente ameaçado, quer pelo
facto de ter perdido metade dos deputados em 2011, quer pela emergência de
partidos dos seus dissidentes, optou (não se sabe ainda se de forma genuína)
por se apresentar como partido de poder. Este facto associado à viragem do PS à
esquerda, também consubstanciada na estranhíssima escolha presidencial de
Sampaio da Nóvoa, terá levado os eleitores a escolher o BE. Já que ambos são
partidos de poder, mais vale escolher o artigo genuíno de esquerda do que o PS.
António Costa parece empenhado em prosseguir na senda da
asneira, não se tendo demitido após a hecatombe eleitoral, em total contradição
com o argumento com que atraiçoou Seguro e dividiu o PS. Para agravar os
conflitos internos deste partido, Costa está a coreografar uma aliança com o BE
e o PCP, que não é certo que se concretizará. Mas se isso acontecer, será algo
votado ao fracasso e ao desastre nacional.
No meio da crise do euro, não podia haver pior altura para
esta aliança contra-natura. O PS está a tentar aliar-se com dois Syrizas que,
não estando na liderança, são muito menos domesticáveis. A partir de 1995, o
PSD levou Guterres ao colo, para garantir a participação no euro e o PS agora
faz isto.
Uma eventual grande coligação de esquerda deverá fazer
bastante mal ao país, mas os seus estragos deverão ser limitados, não só porque
ela deve durar pouco tempo antes de implodir devido às suas incoerências
internas, quer porque o seu raio de acção está fortemente constrangido pelas
condições do país e os nossos compromissos internacionais.
No entanto, essa eventual coligação tem todas as condições
para destruir definitivamente o PS, sem qualquer hipótese de redenção. Como é
que os socialistas poderiam sobreviver a terem desrespeitado o resultado eleitoral
de 2015, onde claramente perderam, para além de aprovarem legislação de
extrema-esquerda?
Muitos suspeitam que o PS dificilmente sobreviverá ao
julgamento de Sócrates que, dada a sua personalidade, nunca aceitará cair
sozinho. No entanto, parece que é António Costa que quer ficar como o principal
responsável pela pasokização do seu partido.
[Publicado no jornal “i”]
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