Quando publiquei o meu livro O fim do euro em Portugal? (Actual, grupo Almedina), em Agosto de
2012, falava-se na saída da Grécia do euro, o que voltou a estar fortemente em
cima da mesa, por muitas das razões que então referi.
Após voltar a enganar a UE, como já tinha feito antes da
entrada no euro, a Grécia foi forçada a pedir ajuda em 2010, tendo-lhe sido
negada re-estruturação da dívida quando ela tinha sido mais necessária. A maior
parte dos fundos emprestados à Grécia foram directamente para os seus credores.
É curioso como tantos contribuintes, entre os quais de Portugal, não tenham
protestado quando lhes forem pedidos fundos que, na prática, se destinavam a
salvar bancos alemães e franceses, libertando estes Estados de problema
equivalentes ao que Espanha teve que enfrentar.
Hoje, a Grécia está quase há seis anos em crise, o
desemprego estratosférico, o sistema partidário esmagado e com o surgimento dos
demagogos do Syriza e o melhor que a zona do euro é capaz de fazer é pedir mais
austeridade?
Os líderes europeus podem sentir-se muito orgulhosos de
terem vergado o Syriza e o seu referendo ou muito contentes de terem obrigado
ao cumprimento das regras, mas parecem totalmente inconscientes do desastre que
estão a criar. Depois de mais este pacote de austeridade, a Grécia é um
desastre à espera de acontecer.
É tão fácil perceber que o Syriza irá aceitar (se o
fizer) as condições do terceiro resgate sob reserva mental e que dentro em
breve se recusará a cumpri-lo. Os dois resgates anteriores, muito
deficientemente aplicados, tiveram como principal problema o facto de não terem
sido assumidos como seus pelos governos gregos. Se isto aconteceu com os dois
primeiros, imagine-se com o do Syriza.
É facílimo que se criem condições para os bancos gregos
voltarem a fechar e que ocorra o pior dos cenários: a saída caótica da Grécia
do euro. As externalidades negativas dum tal evento seriam tão elevadas,
quer económicas quer geopolíticas, que se justifica uma atitude mais benévola
dos dirigentes europeus. Infelizmente, o Syriza fez tudo para dificultar as
negociações e existem custos políticos muito elevados por parte dos credores.
Mas, se não há condições para a permanência da Grécia, em condições minimamente
favoráveis para o país, é preferível negociar a sua saída, do que permitir que
se voltem a criar condições para uma retirada desordenada, essa sim, com
elevadas probabilidades de contagiar muitos outros países.
É também certo que uma saída ordenada envolveria um perdão
maior de dívida do que permanecendo do euro, porque com um dracma desvalorizado
o nível de dívida sustentável seria bem menor. Mas a actual dívida grega é
impagável, havendo apenas dúvida sobre quem vai anunciar isso: os credores (com
perdão) ou o devedor (com incumprimento).
Sem comentários:
Enviar um comentário