Agora que a saída da Grécia do euro passou a fazer
praticamente parte do discurso oficial, parece útil referir uma alternativa que
há vários anos é considerada a melhor forma de iniciar a desagregação do euro,
nomeadamente a saída da Alemanha.
Uma primeira diferença é que a saída da Grécia seria
provavelmente imposta pelas circunstâncias, podendo preceder uma sucessiva
degradação da imagem da UE. Em contrapartida, a saída da Alemanha poderia ser
encarada como uma iniciativa política, que reconhece que o euro foi um projecto
bem-intencionado, mas cujos fracos resultados impõem um fim. Enquanto a
saída da Grécia seria vista como um fracasso do projecto europeu, a saída da
Alemanha seria a eliminação da mais grave fonte de perturbações da UE desde a
sua criação, o euro, e a recuperação do seu objectivo essencial: a paz.
Porque é que a Alemanha poderá ter interesse em sair?
Devido ao cansaço dos seus eleitores, que também já estão na zona da fadiga da
contribuição, porque pagaram mais de duas décadas de reunificação alemã (e
continuam a pagar) antes do início da crise do euro. Poderão preferir pagar um
preço elevado de uma só vez, em vez de pagar uma factura interminável e
geograficamente indefinida. Na verdade, com as taxas de juro actualmente muito
baixas, o momento de saída não é apropriado, mas poderá sê-lo quando as taxas
de juro dos periféricos subirem e colocarem em causa a sustentabilidade das
suas dívidas.
A saída da Alemanha (provavelmente acompanhada por outros
países do Norte) permitiria o respeito pelos actuais termos contratuais, em que
estes países perderiam vultuosas quantias pela apreciação significativas das
suas novas moedas nacionais, mas os contratos em euros manter-se-iam em euros
na encurtada zona do euro, enquanto eram redenominados nos países que saíam. Esta
redenominação não produziria qualquer problema nos contratos internos, mas
seria mais problemática nos contratos entre várias nacionalidades.
Tem havido comentários equivocados de que a depreciação
do euro face ao novo marco alemão geraria uma inflação descontrolada, o que não
faz sentido, porque o euro tem-se depreciado já fortemente face ao dólar e
isso pouco se reflectiu nos preços internos. Para além disso, o BCE manteria a
sua meta de inflação, que só por extrema e não previsível incompetência não
cumpriria. Trata-se de uma confusão entre uma desvalorização pontual, para
corrigir um défice de competitividade, e uma desvalorização recorrente, devido
a inflação elevada.
Àquele primeiro grupo de saída poderiam juntar-se,
posteriormente, outros grupos, retirando-se de forma semelhante. Vamos
simplificar e admitir que o segundo grupo era composto por todos os outros
Estados do euro, com a excepção da Grécia e Chipre, que se manteriam no euro
por pouco mais tempo, desaparecendo esta moeda de vez.
[Publicado no Diário Económico]