Se um banco da Califórnia entrar em graves problemas isso
não afecta as contas do Estado da Califórnia, porque tudo é tratado a nível
federal. Na zona do euro, não há nada de semelhante e os problemas bancários já
afectaram de forma muito grave as contas públicas da Irlanda, Chipre e Espanha.
O problema maior é o ciclo vicioso que se cria, porque o agravamento da dívida
pública acaba, por seu lado, por afectar os bancos que ainda estejam sãos, cuja
necessidade de ajuda volta a deteriorar as contas públicas, numa espiral
terrível.
Após reconhecerem esta evidência, os países da zona do euro
decidiram avançar para a criação de uma união bancária, baseada em três
pilares: uma supervisão única, um mecanismo de resolução das crises bancárias e
um mecanismo único de garantia de depósitos.
Em relação ao primeiro pilar, já foi aprovado, mas apenas
incidirá sobre os maiores bancos, que representam cerca de 80% do sector,
entrando em vigor em 2014.
O segundo pilar foi aprovado na passada semana e os
resultados não poderiam ser mais decepcionantes. Começará, timidamente, em
2015, para só estar plenamente em vigor em 2025. Se já é duvidoso que o euro
ainda esteja em vigor em 2015, a probabilidade de ainda circular em 2025 é do
mais remoto que há.
O montante envolvido neste mecanismo é ridículo e existe uma
forte condicionalidade na sua aplicação. Por tudo isto, o mecanismo de
resolução de crises não tem nenhuma das condições necessárias para evitar o
contágio entre crise bancária e crise soberana.
O que quer que venha a ser decidido pelo terceiro pilar da
união bancária vai interessar muito pouco, não só porque o segundo pilar era o
mais importante, como já ficou aqui demonstrado que será sempre insuficiente.
É verdade que muito do que ficou assim decidido o foi por
pressão da Alemanha, mas também é preciso sublinhar que é no sector bancário
que este país tem mais problemas e em que um sistema solidário os poderia
também beneficiar. Ou seja, se nem neste caso a Alemanha está disposta a abrir
os cordões à bolsa, então nunca o fará.
Este pífio acordo sobre “união” bancária vem assim, mais uma
vez, demonstrar a incapacidade de construir soluções estruturais para a crise
do euro. Por isso, é impossível acreditar na sobrevivência a longo prazo desta
moeda.
A dúvida é sobretudo sobre o porquê e o quando do seu fim. O
braço de ferro orçamental na Grécia, entre o governo e a troika, as eleições europeias de Maio de 2014, com o maior grupo
parlamentar contra o euro de que há memória, poderão ser importantes
condimentos de perturbações. Em Portugal, o recente chumbo do Tribunal
Constitucional coloca-nos mais perto da necessidade de um segundo resgate e
deverão aumentar o horror do eleitorado alemão sobre o desenrolar da crise do
euro.
Peço desculpa por este fraco presente de Natal que aqui vos
deixo, que, apesar de tudo, tenta ser uma forma de ajudar a tomar consciência
do que o futuro (próximo?) nos trará.
[Publicado no Jornal de Negócios]