Quantos milhares de
milhões de euros da nossa dívida pública são devidos à inoperância da justiça
perante a corrupção?
Temos sabido de muitos factos em investigação e ficamos
muito surpreendidos: porque é que só agora estão a ser investigados? Não se
justificaria investigar este atraso? Os responsáveis que diziam que não havia
corrupção em Portugal e que, tudo indica, eram os primeiros a impedir as
investigações, vão ser levados a tribunal? Ou já tudo prescreveu?
Precisamos de uma auditoria à nossa justiça, analisando os
últimos 20 anos, incluindo muitos casos prescritos, mas exclusivamente composta
por estrangeiros. No estado em que as coisas estão e com as inúmeras
cumplicidades que nos trouxeram até aqui, não é possível acreditar nos
resultados de uma auditoria feita por portugueses, pelo menos por portugueses
que tenham vida profissional em Portugal.
Estou convicto que a calamidade que se instalou na justiça
portuguesa (e que talvez esteja em vias de ser corrigida) foi responsável por
um clima de impunidade que permitiu que houvesse dez vezes mais corrupção do
que se a justiça funcionasse. Considero, assim, que a parte mais grave da
corrupção em Portugal não está nos políticos, mas na “inoperância” da justiça.
Há um outro problema que gostaria de levantar, porque me
parece que está esquecido. Os contribuintes foram roubados em milhares de
milhões de euros no conjunto de casos de corrupção que vamos conhecendo, fora
aqueles que ainda não foram investigados. Não são precisos muitos casos graúdos
para se chegar a mil milhões de euros, basta considerar que só o SIRESP poderá
corresponder a um desvio de quase 500 milhões de euros. Tudo indica que o
ministério público está exclusivamente preocupado em prender os culpados e não
está minimamente empenhado em recuperar o dinheiro roubado.
Como é que se admite que Ricardo Salgado, envolvido em tanto
do que é negócio escuro das últimas décadas, como vem sendo crescentemente
divulgado, e o principal responsável pelo buraco aberto no BES, que já custou
tanto aos contribuintes, se continue a passear por aí? Porque é que o seu
património pessoal, não foi ainda “confiscado”, para pagar aos lesados do BES e
porque é que são os contribuintes que estão a pagar a factura?
É muito questionável a estratégia seguida pelo ministério
público na acusação a Sócrates, não só pela sua (falta de) eficácia, mas também
porque constitui uma flagrante violação dos direitos dos cidadãos. É
inadmissível alguém ter sido preso preventivamente sem que tenha sido informado
do que está acusado.
Admite-se que o conjunto de que Sócrates venha a ser acusado
seja vastíssimo, mas não se percebe porque não há já uma acusação inicial, com
os casos em que as provas são mais irrefutáveis. A partir da primeira
condenação, deveria ser obrigado a devolver o dinheiro roubado e toda a sua
defesa futura ficaria muito mais frágil, até economicamente, deixado este réu
de poder tourear a justiça, como é frequente suceder aos mais ricos.
Não tenho ilusões de que se possam recuperar todos os
milhares de milhões de euros subtraídos aos contribuintes, até porque muito foi
desbaratado em obras da mais duvidosa utilidade, mas já custa muito a aceitar
que quase não haja qualquer esforço em recuperar os fundos públicos desviados.
[Publicado no jornal online ECO]
1 comentário:
Sim..é confrangedor ver RS ..AV ..e outros a passearem...
e para além dos casos citados, ainda faltam
DÍVIDAS Á CGD (empréstimos de favor a altos cargos da maçonaria ou propagandistas de Sócrates..caso de J Oliveira DN/JN/TSF/O JOGO)
PARQUE ESCOLAR...que merecia investigação ao pormenor ..escola a escola....
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