Os dados do PIB do 2º
trimestre, o “mais elevado do século”, não passam de um efeito estatístico,
porque o trimestre homólogo foi mau e em Novembro isso tornar-se-á mais claro.
O crescimento de 2,9% no 2º trimestre é fruto de um efeito
base e não resultado de uma transformação duradoura na economia, que não
existiu. É certo que há actividades, como o turismo e a construção, que estão a
conhecer um bom momento, mas as condições gerais de funcionamento da economia
não melhoraram.
Pelo contrário, teve lugar a reversão de algumas das tímidas
reformas forçadas pela troika e não
há no horizonte qualquer proposta de mudança pelo actual executivo. Aliás, a
paz social que vivemos tem como reverso o imobilismo total, que estão a impedir
o país de responder aos desafios que o mundo, em acelerada mudança, nos vem
colocando.
Neste momento vivemos na ilusão do sucesso, mas que será
desfeito já em meados de Novembro, quando for divulgada a estimativa rápida do
PIB do 3º trimestre, que deverá mostrar uma clara desaceleração em termos
homólogos. Antes disso, o governo terá divulgado o cenário macroeconómico
referente a 2017 e 2018, onde se deverá constatar que o crescimento para o
conjunto do corrente ano será pior do que o 1º semestre, indicando que o
segundo semestre deverá ser pior do que o primeiro. Para além disso, é muito
provável que a previsão de crescimento para 2018 seja de desaceleração,
reforçando a ideia de que não virámos nenhuma página em relação à quase
estagnação dos últimos 16 anos.
Se não atingimos o sucesso, muito pelo contrário, isto tem
que ser claríssimo e um governo que não quer reconhecer isto tem que pagar um
preço político elevado pela sua omissão.
Desde logo, a oposição ao governo tem que ser muito mais
clara em relação a este aspecto do que tem sido, para além de que deveria ter
defendido muito mais as reformas que realizou e que o actual executivo
destruiu. Agora poderá não ser a altura melhor para fazer isto, mas deve-se
preparar para confissão de fracasso que deverá estar contida no cenário
macroeconómico apresentado com o orçamento, em meados de Outubro. Em meados de
Novembro deverá ter uma outra oportunidade com os dados do PIB do 3º trimestre.
Além disso, a sociedade civil tem que ser muito mais
exigente, com este e com todos os governos vindouros. Se os executivos não
pagarem um elevado preço político pelos seus erros e omissões, é evidente que
estes serão muito mais frequentes e graves, pagando depois todos nós as suas
facturas.
Neste momento, temos vindo a saber várias das acusações que
impendem sobre Sócrates, mas poucos se podem mostrar surpreendidos. Alguém
tinha dúvidas da sua pressão sobre a PT? Houve algum ingénuo que não se apercebeu
que o contrato com o TGV foi especialmente alterado para prever uma grande
indemnização caso o projecto abortasse? Etc., etc., etc.
A impunidade com que o então primeiro-ministro se permitiu
fazer tudo isto prende-se, em primeiro lugar, com a inoperância (a prudência
obriga-me a este eufemismo) da justiça e, em segundo lugar, a uma sociedade
civil incapaz de se manifestar com força. Querem continuar assim? Querem um
histerismo por causa de uns livros para actividades extra-escolares de crianças
de seis anos, mas a total incapacidade de igual empenho em casos de corrupção
de centenas de milhões de euros feitos à vista de todos?
[Publicado no jornal online ECO]
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