Será difícil que
Macron consiga fazer aprovar as reformas de que França precisa e isso poderá
aumentar a popularidade dos partidos dos extremos, com graves consequências
para a sobrevivência da UE.
Macron conseguiu melhorar a sua posição nos últimos dias de
campanha, tendo obtido um resultado um pouco melhor do que as sondagens
indicavam, muito longe da sua adversária. Os mercados financeiros rejubilaram
com esta vitória, mas parece cedo para respirar de alívio perante os riscos que
Marine Le Pen encerra, sobretudo no seu discurso anti-euro.
Ainda faltam as eleições legislativas, a 11 e 18 de Junho,
com um sistema eleitoral peculiar. Na segunda ronda, entram os dois candidatos
mais votados, mas também aqueles que obtenham 12,5% do número de eleitores
registados, o que por vezes dá lugar a disputas com três candidatos, não sendo
necessário alcançar a maioria absoluta para ganhar.
Estas legislativas estão rodeadas de um nível invulgar de
incerteza. Em primeiro lugar, o presidente eleito não pertence a nenhum partido
e não tem máquina por trás, pelo que ficará muito dependente de negociar apoios
à sua volta.
Em segundo lugar, o sistema eleitoral vinha impedindo a
Frente Nacional de eleger deputados (apenas dois em 2012), mas com a sua forte
progressão nas presidenciais, deve aumentar em muito a sua representação (junto
com os seus aliados), para algumas dezenas de deputados.
Mélenchon, líder da França Insubmissa, também com um
discurso anti-euro e um bom quarto lugar na eleição presidencial também poderá
conquistar algumas dezenas de lugares, suplantando os 15 deputados da actual
Frente de Esquerda, onde estava integrado.
Apesar de um sistema eleitoral que tende a promover um certo
bipartidarismo, nestas eleições o centro deverá sofrer um rombo apreciável.
O que poderá Macron sem forças próprias fazer com um
parlamento tão atípico? Dificilmente poderá ir muito longe nas reformas que
pretende e que até são razoavelmente em linha do que França precisa para sair
do seu esclerosamento. A Alemanha fez um conjunto significativo de reformas ao
entrar no euro (que custaram a eleição a Gerhard Schröder), para se adaptar à
moeda única e à globalização. A França não o fez (e Portugal também não) e
agora acresce a este o desafio da economia digital, que se arrisca a ser ainda
mais difícil do que os anteriores.
O que está em causa é muito grave. Se a França não se
reformar, os votos de protesto irão aumentar e os partidos de ambos os extremos
poderão ganhar peso e aumentar a sua influência disruptiva. Sem crescimento
mais robusto será muito difícil acalmar os perdedores das mudanças e é preciso
ter consciência que as classes mais baixas, as em maior risco, votaram nos
extremos.
Há também a questão da ordem. Ainda recentemente, li uma
carta pública de um polícia francês criticando o discurso anti-autoridade dos
“intelectuais” que fizeram com que não fosse invulgar haver distúrbios em que
carros da polícia são incendiados – com polícias lá dentro!
O problema principal é que estes partidos dos extremos não
têm verdadeiras soluções para apresentar e poderão destruir a UE, com
consequências muito sérias para todos, em especial para os países com economias
mais frágeis como Portugal.
[Publicado no jornal online ECO]
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