O link que o site resistir.info colocou a um texto meu
aumentou em muito as visitas a este blog e acabei por receber a oferta de um
exemplar do livro “Ascensão e queda do euro”, coordenado por Jorge Figueiredo
(2012, Chiado Editora), com a promessa de eu fazer uma resenha do mesmo, que
vou agora iniciar.
Antes de mais tenho que declarar que estou nos antípodas
científicos e ideológicos dos autores, pelo que será mais do que natural a
presença de inúmeras discordâncias. O livro inicia-se com a republicação de
seis textos de Rudo Ruijter, de 2007 a 2011, que passo a rever. Como estes
textos eram artigos autónomos, há várias repetições dos mesmos temas.
Fico com algumas dúvidas na tradução, devido aos chamados “falsos
amigos”. Quem não está por dentro dos temas terá tendência para traduzir “fiscal
measures” por “medidas fiscais” (p. 85), quando a tradução correcta seria “medidas
orçamentais”. Há casos em que o erro é evidente, mas nesta situação concreta
fiquei na dúvida.
As suas teses sobre a criação de moeda são um pouco insólitas,
até porque pretendem revelar (mal) um suposto segredo, que é ensinado há décadas
nas faculdades de economia, logo no primeiro ano.
A secção “Os bancos centrais precisam de inflação” (p. 28-34)
é particularmente estranha porque há cada vez mais bancos centrais a adoptar
metas explícitas de inflação, muito baixas. O BCE, em particular, tem uma meta
de inflação excessivamente baixa (inferior a 2%), que é um forte obstáculo à
correcção dos desequilíbrios dos países periféricos.
Já os artigos sobre o Mecanismo Europeu de Estabilidade
(MEE) são mais interessantes e denunciam que este pode exigir dinheiro dos países
membros de modo ilimitado, sem o direito de veto dos parlamentos nacionais (p. 97).
Este MEE provocou uma forte celeuma na Alemanha e indigna este autor holandês. Não
por acaso, em Portugal não se ouviu o mais leve protesto. A explicação parece-me
simples: a Alemanha e a Holanda correm graves riscos de ficarem com grandes facturas
que não controlam, enquanto Portugal poderá beneficiar de quantias crescentes
de ajuda.
O último artigo de Ruijter recomenda a saída do euro e traça
um cenário idílico da transição, que não consigo acompanhar. Insiste na tese da
criação de um Banco de Estado, diferente dos actuais bancos centrais, cujas
vantagens tenho dificuldade em perceber. Suspeito, aliás, que esta crítica ao
sistema actual seja mais bem recebida nestas paragens na parte em que coloca em
causa as instituições vigentes, do que na parte em sugere uma alternativa
concreta.
Há aqui uma gralha irritante (p. 111), que se repete na
contracapa, de dizer que a zona do euro é composta por 23 países, quando são só
17.
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