Este post pretende ser uma resposta a alguns dos comentários feitos aqui, que aproveito para agradecer, às minhas observações sobre a proposta de João Ferreira do Amaral de uma saída negociada do euro, em particular a ideia de os depósitos nos bancos em Portugal preservarem o valor em euros, após a nossa saída. O argumento daquele economista é que essa condição é essencial para evitar uma fuga de depósitos durante as negociações.
Essa garantia custaria cerca de 25% do PIB português, no caso da depreciação negociada ser de apenas 20%, sendo que parece que a depreciação a negociar deveria ser superior a isso, o que colocaria o custo desta garantia em níveis ainda mais elevados.
Considero que, antes das negociações se iniciarem, Portugal deveria ter feito muito trabalho de casa, de molde a que as negociações ficassem concluídas num único fim-de-semana, pelo que nem sequer haveria o risco de fuga de depósitos, o que eliminaria a necessidade de suportar qualquer encargo com a garantia dos depósitos.
Mas imaginemos que o governo iniciava as negociações, anunciando – um absurdo – que estas deveriam estar concluídas ao fim de 30 dias. Para evitar a tal, mais do que previsível, fuga de depósitos, o governo declararia o compromisso solene de garantir o valor dos depósitos em euros.
Esta promessa, tendo em atenção o custo elevadíssimo que lhe estaria associada, teria uma credibilidade muito reduzida. Ou seja, teríamos o custo elevadíssimo de garantir os depósitos, sem o benefício de evitar uma fuga dos mesmos. É difícil imaginar uma combinação pior.
Para evitar este problema, o governo anunciaria que esta garantia seria paga pelos parceiros europeus. Mas como é que o governo pode garantir algo sobre os parceiros europeus no início das negociações? Como é óbvio, esta garantia não sossegaria ninguém, e continuaríamos a ter fuga dos depósitos.
Imaginem o cenário, em que durante um mês o governo pedia uma desvalorização de 30% e os parceiros europeus só estariam dispostos a aceitar uma de 15%, sendo esta questão – gravíssima – discutida todos os dias na praça pública. Quem é que não retiraria todos os seus depósitos de Portugal? Os mais pobres levavam-no para casa e os mais ricos para a Suíça.
Há uma outra questão, que merece ser salientada, que é que, com a saída do euro, todos os preços dos activos sofrerão uma queda brutal. Os preços do imobiliário sofrerão um crash brutal, de mais de 50%, os preços das acções cairão brutalmente (com a provável mas rara excepção das empresas exportadoras), os preços das obrigações cairão de forma drástica. Porquê este preocupação com os depósitos, cuja garantia envolveria custos tão elevados?
Há a ideia – errada – de que a garantia dos depósitos impediria a falência generalizada dos bancos portugueses. A verdade é o oposto: a garantia dos depósitos em euros é que provocaria a falência dos bancos portugueses.
Os bancos portugueses têm um elevadíssimo excesso de crédito em relação aos depósitos. Para garantir a sobrevivência dos bancos portugueses o que é necessário é garantir que esse excesso passa a ser denominado na nova moeda portuguesa. Para isto é que seria utilíssimo garantir a ajuda europeia, não para garantir os depósitos.
Resumindo, não faz sentido que se peça ajuda europeia para garantir a protecção dos depósitos, mas antes para garantir a sobrevivência do sistema bancário português.
Quanto aos depósitos, estão condenados a grandes perdas, tanto maiores quanto maior for a depreciação da nova moeda portuguesa.
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