quarta-feira, 30 de novembro de 2011
A caminho do abismo
Preparações para o fim do euro
O Financial Times tem hoje um artigo sobre os planos de contingência que empresas internacionais estão a fazer sobre o possível fim do euro, de “acordo com entrevistas a dezenas de administradores de multinacionais”.
Uma das empresas contactadas foi justamente a “nossa” AutoEuropa, que analisou o problema e chegou à conclusão que as consequências não seriam muito negativas, por serem basicamente exportadores e estarem integradas num grupo mundial.
De facto, especulo eu, haveria uma consequência claramente positiva que seria a desvalorização do valor acrescentado da AutoEuropa, que constituiria um forte aumento de competitividade. Haveria também uma consequência negativa, de subida dos custos de financiamento, que poderia ser em alguma medida mitigada, se parte deste financiamento fosse obtido pela empresa-mãe na Alemanha.
Mas o mais importante a reter é que não é só o mercado obrigacionista e um número crescente de analistas que antecipa o fim do euro: neste momento há cada vez mais empresas que se estão a preparar para esse cenário de forma muito concreta. Por exemplo, a Siemens criou o seu próprio banco para poder depositar os seus fundos directamente no BCE.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Baixar salários
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Estímulo alemão
O governo alemão está com uma atitude muito ambivalente em relação ao euro. Ora se diz interessado em fazer muito para resolver a crise, ora coloca inúmeros obstáculos às propostas concretas de solução da crise. Para além disso, tem defendido uma uniformidade de políticas orçamentais que é deslocada e não tem dado o devido relevo ao problema das contas externas.
Os países mais atingidos pela subida das taxas de juro, no actual contexto não têm grande remédio senão decretar austeridade orçamental. No entanto, os países restantes deveriam aplicar planos de expansão orçamental.
Até há pouco, pedir uma expansão orçamental à Alemanha seria difícil de ser aceite, porque o desemprego neste país vinha batendo mínimos sucessivos e a inflação tinha-se mantido acima dos 2% durante todo o ano de 2011. Até aqui, um estímulo orçamental seria não só desnecessário como potencialmente perigoso.
No entanto, nas últimas semanas as perspectivas económicas germânicas têm sido revistas fortemente em baixa e, em vez de uns robustos 2%, o crescimento para 2012 já não deverá passar dos 0,8% (Comissão Europeia e institutos alemães), com a agravante de estarmos no início de um processo de revisão de expectativas, que não terá chegado ainda ao fim.
Ou seja, neste momento o governo alemão deveria estar a preparar um pacote de estímulo orçamental para contrariar o cenário de quase recessão para o próximo ano, o que deveria impedir uma desaceleração económica mais acentuada no resto da Europa. Com a instabilidade nos mercados financeiros e a subida dos spreads de vários países, inclusive da França, não há nada melhor do que o enfraquecimento económico para dar gás à auto-concretização de expectativas de que os países atacados não conseguirão honrar os seus compromissos.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Roleta grega
O PM grego, George Papandreou, surpreendeu tudo e todos (inclusive o seu próprio partido) ao anunciar um referendo ao último pacote de ajuda. Não é claro o que move Papandreou, mas não é de excluir que esteja a preparar-se para sacudir água do capote em relação ao dilúvio que se avizinha.
A nova ajuda pede mais uma forte dose de austeridade (combinada com reformas estruturais) em contrapartida de mais dinheiro e uma reestruturação da dívida pública grega que a faria descer para 120% do PIB em 2020. Esta reestruturação é mais um resultado dos compromissos europeus, que se caracterizam pelas meias soluções. Este é um dos casos claros em que meia solução não é solução nenhuma. Os gregos vão pagar o custo da reestruturação (passar a ter muito mais dificuldades de acesso a financiamento), sem conseguirem o benefício da sustentabilidade da dívida. Uma dívida de 120% do PIB é muito dificilmente sustentável, mas ter uma dívida desta dimensão depois de uma reestruturação (que conduz a taxas de juro muito mais elevadas) é absurdo, é uma mera perda de tempo e dinheiro até à próxima reestruturação da dívida.
A crise do euro tem mil pretextos para explodir antes do referendo grego, em particular pelo contágio com a dívida italiana, que está já perigosamente próxima do limite da sustentabilidade, mas vamos admitir que é contida até lá. A vitória do “sim” no referendo também não resolveria grande coisa, já que, como vimos acima, a Grécia se encaminharia para uma nova reestruturação da dívida. Concentremo-nos então na vitória do “não”.
Vamos presumir que a vitória do “não” seria o fim de qualquer tipo de ajuda à Grécia, que optaria/seria-forçada a uma reestruturação da dívida muito mais intensa. Esta reestruturação seria a estocada final no sistema financeiro grego (onde o BCP ainda tem um banco, vá-se lá perceber porquê...), cuja sobrevivência já estaria posta em causa pelo agravar da fuga de depósitos, que está em curso há largos meses. Talvez fosse dispensável este esclarecimento, mas tomo a liberdade de o explicitar: uma solução à irlandesa do sistema financeiro está totalmente fora de questão, porque o Estado grego não é minimamente capaz de honrar as suas dívidas, quanto mais arcar com responsabilidades do sistema financeiro.
Com a reestruturação brutal da dívida pública e a falência do sistema financeiro grego, estão eliminados os principais obstáculos à saída do euro, um caminho que poderá ser percorrido de forma voluntária, de forma negociada com os parceiros europeus ou forçado por estes.
A saída do euro e a concomitante depreciação da nova dracma imporá uma nova dose de perda de poder de compra mas, desta vez, com resultados à vista, com aumento das exportações, crescimento económico e redução do desemprego.
Convém ainda esclarecer que a recusa das condições de ajuda externa não vai dispensar a Grécia de medidas de contenção orçamental, muito pelo contrário. Ao ser forçada a uma reestruturação da dívida muito mais intensa, não haverá qualquer tipo de financiamento disponível, pelo que o défice sem juros (défice primário) terá que ser totalmente eliminado no imediato.