Lisboa tem uma zona
enorme em Entrecampos onde se poderia aumentar imenso a oferta de habitação na
cidade, aliviando a pressão sobre os preços. Como é que se explica que a CML
apenas preveja que 30% do edificado ali seja para habitação?
A saga inenarrável dos terrenos da Feira Popular, fechada em
2003, há 15 anos (!) e ainda não reaberta em lado nenhum, parece estar a chegar
ao fim, mas o desfecho que se prepara é um erro gigantesco: 70% da área
edificada será destinada a comércio e escritórios e apenas 30% a habitação.
A zona de Entrecampos já está hoje saturada de trânsito e
colocar tanto escritório ali vai conduzir a ainda mais automóveis a entrar na
área, tornando-a infernal. Se não se cria habitação na cidade, isto é um
estímulo a mais pessoas viverem fora de Lisboa e mais carros a entrar na
capital para o trabalho.
Em contrapartida, se a distribuição de áreas fosse a
inversa, 70% para habitação e o resto para as restantes valências, mais pessoas
poderiam viver na cidade e aproveitar os excelentes (em número que não em
qualidade) transportes públicos que servem a zona.
Isto passa-se na mesma cidade onde há fortes queixas de
falta de habitação, que está a fazer subir imenso os preços dos imóveis?
Isto passa-se na mesma cidade que suscitou a proposta
(disparatada) da “taxa Robles” contra a “especulação”?
Isto passa-se na mesma cidade em que há queixas (legítimas)
de que o aumento do alojamento local está a gerar escassez de habitação?
O que é que a esquerda tem a dizer sobre este absurdo? Vai
ficar calada a ver esta oportunidade de ouro de aumentar o número de habitações
em Lisboa ser escandalosamente desaproveitada?
E os “bem-pensantes” comentadores não têm nada a dizer? Não
se indignam com este absurdo que está a ser perpetrado à vista de todos?
O “país” da comunicação que vive focado em “Lesboa” não tem
nada a dizer sobre este assunto?
Muito próximo dali, estava o mercado abastecedor de Lisboa,
na Av. das Forças Armadas, fechado em 2000 (ainda há mais tempo que a Feira
Popular!) e deslocalizado para o MARL de
Loures. Muitos dos terrenos onde estava o anterior mercado ainda estão hoje por
urbanizar, em frente do ISCTE e da Faculdade de Farmácia e pertíssimo de muitas
outras faculdades da Universidade de Lisboa.
Como explicar este absurdo? Porque é que aquilo não está
hoje cheio de residências universitárias?
Porque é que a cidade de Lisboa é tão mal gerida? Porque é
que os problemas ficam um tempo louco à espera de soluções?
O que é que estão à espera para criar o “task force” para a
habitação que sugeri no artigo
da semana passada?
[Publicado no Observador]