O meu primeiro post sobre a saída do euro provocou reacções (no Cachimbo de Magritte) de quase acusação de sacrilégio, como se fosse até proibido reflectir sobre alternativas para o nosso futuro. Peço para encararem estes textos como cenários para reflexão e não como recomendações.
Mesmo que um cenário não seja o mais provável, faz sentido considerá-lo se tiver custos elevados associados. A maior parte dos leitores terá um seguro contra incêndio da sua habitação, não porque considera que a probabilidade disso ocorrer seja elevada, mas porque os custos disso acontecer são elevadíssimos.
Neste momento, a probabilidade de implosão do euro é certamente mais elevada do que a probabilidade de qualquer das nossas casas sofrer um incêndio. Usando unicamente a imprensa de hoje, temos este artigo do FT, onde aparece um investidor a dizer “Some people want to put on a just-in-case euro break-up trade and they’re looking for any way to do this.” Temos também um artigo do José Manuel Fernandes, no Público: “Vou escrever o que nunca pensei escrever: é tempo de pensar em alternativas à actual configuração da moeda única para que o seu eventual fracasso não arraste consigo a obra muito maior e mais importante que é a União Europeia.”
Há inúmeras formas de a implosão do euro ter lugar, desde logo pela saída da Alemanha, provavelmente o país que o integrou com maior relutância. Durante décadas a Alemanha pagou para acalmar os sentimentos negativos decorrentes da segunda guerra mundial. A actual geração sente-se liberta dessa responsabilidade, por isso que sentido é que tem estar agora a pagar e com isso atrair novos sentimentos negativos, por serem, na opinião de muitos (que eu, de maneira alguma partilho), os alemães que nos estão a obrigar a fazer tantos sacrifícios.
Ainda por cima, quando os problemas dos países periféricos não têm fim à vista. De acordo com o FMI, quando Portugal chegar a 2014 os défices públicos voltam a disparar. Mesmo quando o problema das contas públicas estiver resolvido, ficará ainda o das contas externas. Ainda de acordo com o FMI, a nossa dívida externa deverá continuar a sua trajectória explosiva, passando de 109% em 2009 para 145% do PIB em 2015. Ou seja, continuaremos com enormes dificuldades de financiamento, mesmo para lá de 2015.
Após a saída da Alemanha e alguns outros, isso degradaria o euro (cada vez mais uma moeda de países endividados) e forçaria a saída de mais alguns, com nova degradação e novas saídas e assim sucessivamente. Imaginem que o euro ficava reduzido a Espanha, Portugal e à Grécia. Dar-se-ia a implosão final.
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