sexta-feira, 5 de junho de 2009

Constituição para toda a obra

Segundo o Diário de Notícias de hoje: “Artigo da Constituição salva clientes do BPP”
por RUDOLFO REBÊLO

“Governo assenta a solução para os clientes do banco no art.º111 da Constituição, segundo o qual o Estado é o garante das poupanças. Mas Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças, insiste em responsabilizar os accionistas.”

http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1254165

Em primeiro lugar o artigo relevante é o 101º, o que poderá ser uma mera gralha, que diz: “O sistema financeiro é estruturado por lei, de modo a garantir a formação, a captação e a segurança das poupanças, bem como a aplicação dos meios financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social.” Como é possível ler deste artigo que o “Estado é o garante das poupanças”? A única coisa que o Estado tem que fazer é criar lei que garanta a segurança das poupanças. Se essa lei for violada, o Estado não fica obrigado a nada, a não ser a punir os infractores.

Para assegurar a concretização do art. 101º existe regulação (rácios mínimo de capital, normas de diversificação, etc.), cujo cumprimento é fiscalizado pela supervisão.

No caso BPP se há falhas, elas estão na supervisão (da responsabilidade do Banco de Portugal) e não da regulação (da responsabilidade do “Estado”). Se os clientes quiserem pedir contas a alguém, que o façam, em primeiro lugar à anterior administração, em seguida aos accionistas e só depois ao Banco de Portugal. De qualquer forma, deixem os contribuintes fora disto.

É claro que uma eventual indemnização paga pelo Banco de Portugal sairia em última análise do bolso dos contribuintes, mas teria um efeito muito potente: obrigaria o banco central a ser muitíssimo mais exigente na supervisão, o que nos deixaria muito mais tranquilos.

Um último comentário sobre a esquizofrenia do artigo do DN. “Governo assenta a solução para os clientes do banco no art.º111 da Constituição, segundo o qual o Estado é o garante das poupanças.” Esta frase parece ter sido “soprada” pelos advogados dos clientes do BPP, que têm o descaramento de se porem a falar em nome do governo. Já a frase seguinte contradiz completamente a primeira, com o ministro das Finanças (que esteve bem, finalmente!) a afastar a responsabilização dos contribuintes desta embrulhada.

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